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Dia e hora da nossa morte

Porque hoje é, para a grande maioria das pessoas, a antevéspera da visita anual aos cemitérios, façamos uma pausa na lufa-lufa diária para pensarmos que não pertencemos a este mundo e, como tal, aqui não permaneceremos para sempre; e, assim, dedicar uns momentos de reflexão ao fim que nos espera ali ao dobrar da estrada não é um ato despiciendo, embora incómodo. E, então, se alguém, de supetão, lhe lançasse o desafio: quer saber quando vai morrer? Provavelmente lhe responderia que morrer todos sabemos que vai acontecer, agora quando, é uma incerteza a que somos absolutamente dados; e, então, sendo crente, mais facilmente responderia que isso será quando Deus quiser. Todavia, não me espanta que pessoas houvesse capazes de querer saber o dia e a hora em que tal fosse acontecer; por um lado, a fim de dar realização a determinados projetos, tomar decisões, deixar tudo arrumado, como se diz e, por outro lado, ainda terem tempo de dar largas ao fruir das coisas boas da vida e fazer o que ainda não foi feito; e isto já para não falarmos naquele aldeão demasiado prevenido que já tinha o caixão debaixo da cama e todos os dias arranjava um tempinho para se meter nele com o argumento de que era para se habituar; ou daqueloutro bombeiro, maestro da respetiva banda, que com ela ensaiava, sempre que podia, a marcha fúnebre que acompanharia o corteja para a sua última morada. Pois bem, sabendo que a vida é feita de imprevistos e contradições, hoje estamos confortavelmente bem e, amanhã, o cenário muda e acorda-se virado do avesso; e tudo se transforma, muitas vezes por culpa de um espirro mal dado ou de uma passada em falso no vão das escadas; e a ponto de, por vezes, se ouvir dizer de alguém: afinal andava tão direitinho que nada previa que isto lhe viesse a acontecer. Ora, a ciência avança continuamente sempre em busca de respostas para as nossas inquietações, sejam elas do foro material e biológico, sejam do imaterial e espiritual; sobretudo, numa obstinada procura do elixir da eterna juventude e, porque não, da imortalidade; mas, acaba sempre por esbarrar nos muros da imponderabilidade e dos insondáveis desígnios da natureza e, consequentemente, da vida. Mas, para além do silêncio e do vazio dos óbvios muros de imponderabilidade e de insondabilidade, os cientistas não se dão por vencidos e teimam em desafiar a omnipotência e omnisciência de Deus; e, assim, investigadores da Universidade da Califórnia nos Estados Unidos da América já criaram um teste capaz de prever a idade em que a morte acontece, isto é, capaz de responder à intrigante pergunta: em que dia e a que hora vou morrer? Este teste feito a uma amostra de sangue mede as modificações epigenéticas da molécula de ADN; e o resultado leva a que se conclua que a idade do organismo (idade biológica) não é a mesma que a idade cronológica ( do bilhete de identidade), podendo avaliar se uma pessoa está ou não a envelhecer demasiado depressa, estimando assim o tempo de vida que lhe resta. Daqui facilmente, diz a investigação, se conclui que não envelhecemos todos da mesma maneira e ao mesmo ritmo, havendo pessoas cuja idade biológica é inferior à idade cronológica e vice-versa; ora, quando acontece de a idade biológica ser inferior à cronológica, a pessoa terá uma maior longevidade, como o inverso obviamente leva a que a pessoa venha a morrer mais cedo. Frequentemente encontramos pessoas que aparentam menos idade do que a constante do seu Bilhete de Identidade, como igualmente pessoas há que parecem mais velhas do que o registo da sua cronologia; e, segundo os investigadores, as primeiras vão durar mais tempo do que as segundas, baseados no teste em causa. Todavia, contra esta teoria se levantam os defensores de que o envelhecimento não só resulta de fatores genéticos, mas também de fatores ambientais como, por exemplo, a alimentação, a poluição ou os estilos de vida de cada pessoa; e, assim, o debate prossegue sem fim à vista e mais se complica a busca da resposta para a questão: em que dia e hora vamos morrer? E como bem diz António Leuschoner: há uma coisa certa para todos nós: saber que um dia vamos morrer; e uma incerta: saber quando. Só que aprendemos a viver nesta incerteza latente com alguma paz. E eu acrescento que esta paz reforçada para os crentes na vida eterna é com as palavras que, segundo o Génesis, Deus disse a Adão após o pecado original: memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris ( lembra-te, homem, que és pó e em pó hás de tornar-te.) Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

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30 outubro 2019