twitter

Dia do treinador

Aexemplo do que acontece um pouco nesta sociedade é habitual nas diferentes modalidades desportivas comemorar-se/assinalar-se também o dia do treinador. No entanto não há um dia único para assinalar estas datas, nomeadamente de agradecimento mútuo entre parceiros de trabalho, que em comum mantêm viva a prática desportiva. Mas terá o simbolismo do dia do treinador forte correspondência com o que se passa no terreno? Ser treinador provavelmente é algo de todos os dias, seja na mente, no campo ou mesmo envolvido noutra tarefa. Se pensarmos na dimensão da atividade do treinador, quando levada a sério, poderemos estar, aos olhos dos menos familiarizados com as tarefas do treino, diante de um “problema” ou de uma “obsessão”. Todos os momentos servem para pensar no exercício que melhor resolverá o problema individual ou coletivo, como comunicar melhor com um atleta ou com a equipa, como conceber melhores situações de treino, quais as razões da derrota ou as consequências de uma vitória. Mas esta cadeia infinita de pensamentos poderá estender-se para além das quatro linhas, do balneário ou da sessão de treino. Poderá centrar-se igualmente nas questões deontológicas, éticas, de conduta, de participação ativa na valorização da função (quase nunca profissão). Pensar o todo revela grande atitude tática e sensibilidade para aquilo que é o papel cívico do treinador, na medida em que poderá contribuir para melhorar e valorizar o contexto onde atua. Em Portugal a “obsessão” de ser treinador é entendida também como uma paixão, pela modalidade ou pelo desporto em geral; outros entendem-na como uma mania. Certo é que em muitas situações ser treinador em Portugal é sinónimo de pouco tempo para outras atividades, pouco tempo com a família, fins de semana passados em viagens, em pavilhões, em jogos, em observações, acumulação de tarefas que vão muito para além da direção de treinos e jogos. Uma atividade, que não sendo na maioria dos casos uma profissão, provoca momentos de desgaste, dúvidas, alguma frustração levando por vezes ao abandono. Não sendo esta visão uma verdade absoluta é uma verdade sentida, vivida e constatada, que vive em paralelo com a dúvida sobre a utilidade social do treinador. É que, exceção feita aos profissionais do treino, liderando grupos competitivos, inseridos numa estrutura aparentemente profissional, ambiciosa, muitos são os treinadores amadores que simplesmente e reconhecidamente são os responsáveis por manterem projetos desportivos vivos. A muitos deles, este dia, seria provavelmente lembrado o seu reconhecimento. A todos os treinadores amadores, mesmo que compensados monetariamente, que alimentam o sonho desportivo dos jovens, ou a todos os treinadores voluntários que iniciam crianças a sonhar com o desporto, certamente que passariam esquecidos no dia do treinador. Mas na verdade no dia em que, socialmente e na prática, se valorizar o desporto enquanto contributo para a formação e valorização de um indivíduo, enquanto ferramenta pedagógica capaz de promover bons comportamentos, será certamente um dia grande para aqueles que ainda poderão ser considerados agentes de mudança.
Autor: Luís Covas
DM

DM

16 março 2018