twitter

Dever de quem escreve

Ora, desiludam-se uns e outros, porque sempre foi da minha natureza, do meu caráter dizer sim, quando se deve dizer sim e dizer não, quando se deve dizer não; e, essencialmente, porque penso que o dever de quem escreve descomprometido, que é o meu caso, consiste em estar acima, muito acima de interesses e pressões sejam político-partidários e profissionais, sejam familiares ou sociais. Ademais, quem faz opinião deve ter sempre em conta a sua honestidade intelectual, independência de juízo e firmeza de caráter que ajude as pessoas, neste caso os leitores, a pensar, a ter opinião própria, para finalmente tomar decisões; e o que só acontece se foram informadas com rigor, independência, clareza e verdade; isto é, ter a sua vez e voz na vez e voz de quem para eles escreve. Sei que não vou com a minha atitude mudar o mundo, mormente num tempo em que as redes sociais vão impondo já, com alguma firmeza, a pós-verdade como norma e princípio; e sei igualmente que não vou ganhar nenhuma medalha (até porque tenho da condecoração uma opinião muito própria, desde que esta se tornou um ato universal e comezinho) e muito menos um Nobel da Opinião (que nem existe); mas, tenho mesmo com esta minha atitude feito inimizades e provocando outras tantas obstinações. Pois bem, esta é a minha filosofia de vida que me ensinaram meus pais – pessoas boas, retas e justas; e por quem as obras que deixaram claramente falam, continuando a dar frutos de generosidade e filantropia; todavia, se aquilo que aqui tenho dito alguma coisa fez doer a alguém, ou seja, se abalou consciências, é bom sinal; é sinal de que incomodou, mexeu, impressionou o que pode vir a ser um bom princípio, um fermento mesmo de mudança. Depois, é bom que o meu amigo leitor se lembre de que, hoje, o mais importante é andar de olhos bem abertos, espírito vigilante e cabeça fria; e isto quer dizer que, num mundo como este em que vivemos onde campeia tanta injustiça, tanta mentira, tanta demagogia, tanta desonestidade, tanta ingratidão, quem não estiver vigilante e consciente do que pode, quer e vale, facilmente cai na esparrela e levado é na pandeireta. E mais: com os métodos sofisticados que, hoje, existem de influenciar, comprar e manipular a opinião pública e as consciências, torna-se cada vez mais necessário e urgente que as pessoas estejam esclarecidas, sejam responsáveis, tenham opinião e pensem com a própria cabeça; é mesmo a única forma de se poderem afirmar mais autónomas, responsáveis, independentes e, consequentemente, mais livres. Pense nisto, bom leitor, e, depois, diga-me se tenho ou não tenho razão naquilo que penso, defendo e escrevo; e se é ou não preferível estarmos de mal com certos homens, mas de bem com a nossa consciência; porque isto de pensar com a própria cabeça e de decidir em liberdade é um dom inerente à nossa ôntica natureza e de que nunca devemos abdicar ou prescindir. Venham daí esses ossos e até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

DM

4 outubro 2017