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A vida é tingida pelo enigma e nimbada pelo mistério. Quem tem fé espera – legitimamente, aliás – não sofrer ou vencer o sofrimento.
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Nem sempre isso acontece, porém. Como explica Michael Paul Gallagher, «a fé não tira a dor, carrega-a». Na fé, não deixamos de sofrer; sofremos de maneira diferente. A felicidade não está longe da dor e a dor não está necessariamente longe da felicidade.
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Eternos insatisfeitos, ficamos pensativos com certas palavras e intrigados com muitos silêncios. Sucede que Deus é perito na Palavra e imensamente subtil no silêncio.
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Como notou Michael Paul Gallagher, «Cristo é uma Palavra entre dois grandes silêncios». Antes e depois da Palavra, é o silêncio. Não subestimemos, pois, o silêncio e aprenderemos a dar mais valor às palavras.
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Quando falamos da realidade de Deus, acabamos por pensar na nossa realidade acerca de Deus. Era bom, por isso, que nos deixássemos surpreender pela aparente «irrealidade de Deus».
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É o que propõe Michael Paul Gallagher. É quando parece mais irreal que Deus Se torna mais real. A suposta irrealidade de Deus significa que Ele não Se acomoda à realidade que acerca d’Ele construímos. É imperioso passar da nossa realidade «acerca de» Deus ao acolhimento da genuína realidade «de» Deus.
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No fundo, a tão invocada «abscondidade de Deus»(François Varone) acaba por ser uma projecção da «abscondidade do homem» em relação a Deus. Quando achamos que Se esconde de nós, ponderemos se não somos nós que estamos a esconder-nos de Deus.
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Os nossos arquétipos, os nossos pré-conceitos e o nosso agitado imediatismo «escondem-nos» de Deus. Não nos abrem a Deus que até está presente onde parece estar mais ausente. É que Deus, quanto mais Se esconde, mais Se revela. Enfim, deixemos que Deus seja Deus.
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O problema de Tomé não foi a dúvida; foi a certeza: foi a certeza de considerar impossível a Ressurreição. É por isso que o teólogo Michael Paul Gallagher alerta: «O oposto da fé não é a dúvida; é a certeza errada».
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A dúvida é um estádio da procura. O problema são as nossas certezas – e seguranças –equivocadas. A fé leva-nos a viver a partir de Deus. São muitas das nossas certezas que nos aprisionam em nós. Libertemo-nos da tirania do eu. Tomé também se libertou.
Autor: João António Pinheiro Teixeir