O ano da graça de 2018, no plano desportivo, pode considerar-se um tempo bem preenchido, pleno de eventos bem marcantes para as nossas vidas.
Começando por casa, isto é, pelo nosso país, nunca ‘o mundo da bola‘ parece ter estado tão vivo: na televisão, na rádio, nos jornais, o espaço da comunicação parece que só tem olhos e ouvidos focados no futebol!
Desporto é futebol, parece inferir-se! Ainda mais num ano em que Portugal se sagrou campeão europeu de Futsal!
Mas isto não é bem verdade, como sabemos. Por estes dias, também se tem falado de Ténis (Millennium Estoril Open), de Hóquei em Patins (o Óquei Clube de Barcelos deixou fugir aquela que seria a sua terceira Taça Ceres), da corrida (Meia Maratona de Lisboa; Corrida do Pai, no Porto), de provas de atletismo…
E, não se pode esquecer, Braga é a Cidade Europeia do Desporto, onde já tiveram lugar provas de Pólo Aquático, Rugby, Ginástica Artística e Dança. E muitas outras manifestações desportivas estão anunciadas.
Mas se elevarmos o nosso olhar para além dos limites estreitos de um rectângulo que nos confina, mesmo mentalmente, a uma pequenez doentia, damo-nos conta que, há poucos meses, na Coreia do Sul, tiveram lugar os Jogos Olímpicos de Inverno!
De boa memória, diga-se. E de tal forma que quase ofuscam o Campeonato Mundial Fifa 2018, anunciado para Moscovo, neste próximo Verão.
Uma característica une todos estes certames desportivos: a juventude. E em muitas circunstâncias, a juventude é já o cume de muitos anos de esforço e canseiras! Quanto sofrimento, quantas privações, e em silêncio, para se alcançar o patamar do êxito. Por isso, que relação estabelecer entre o desporto e a juventude?
Como caracterizá-la? Como é que foi sendo avaliado o desporto ao longo das gerações? Que lugar tem ocupado na sociedade, da Antiguidade aos nossos dias?
Por outro lado, no mundo do futebol, alguns dos seus artistas não vão resistindo à tentação de publicar ‘o seu livro’: que motivo os arrastará até esta loucura? Por isso é lícito indagar a natureza desta relação entre desporto e cultura, entre desporto e Letras, ao longo dos séculos: que relações de proximidade têm cultivado?
E mais natural não poderia deixar de ser a pergunta: somos nós, os europeus e, de maneira geral, os povos do ocidente, somos nós, dizíamos, filhos da Grécia ou de Roma?
É este pensamento que vai nortear a nossa reflexão, em busca de uma resposta, ou, quem sabe, de uma pergunta.
Por ocasião do Euro 2004 de Futebol, que decorreu em Portugal, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma nota pastoral que intitulou significativamente «O desporto ao serviço da construção da pessoa e do encontro dos povos», o que explicita, desde logo, uma relação promissora entre desporto e juventude.
Com efeito, o desporto promove a dignidade da pessoa humana, na medida em que é um veículo privilegiado para a realização do ser humano enquanto ser social, ideia esta fundada no pensamento aristotélico (Política, 1253a).
O desporto, diz-se ali, educa o homem na pedagogia do esforço, do empenho, do sacrifício, da generosidade, na busca de valores, como a lealdade, o respeito mútuo, a solidariedade e a beleza.
Mas também o altruísmo, o respeito pelas regras, pelas leis, o altruísmo são outros tantos valores definidores de uma sociedade, de uma vida colectiva, onde se deseja que o homem atinja a sua realização integral enquanto ser humano.
É que o verdadeiro atleta busca com o seu esforço a síntese harmoniosa, a um tempo, entre o aperfeiçoamento físico e o exemplo moral de integridade e, com isso, atingir a plenitude da Vida.
Autor: António Maria Martins Melo