Se pedisse ao meu bom leitor para me indicar o nome de quatro ou cinco ministros, decerto não seria capaz; ou, quando muito, referia um ou dois, se tanto; e isto porque uma sondagem recente do jornal Expresso concluía que cerca de 75% de portugueses não foi capaz ou teve muitas dificuldades e dúvidas em o fazer; então, se os nomes fossem de deputados ou mesmo de autarcas, o resultado seria, sem dúvida, mais desastroso.
Ora, o que é que isto revela? Melhor, onde reside a razão desta ignorância? Obviamente na falta de interesse, entusiasmo pela vida política e por quem a sustenta e lhe dá visibilidade; e, mormente, numa preocupante falta de cultura democrática.
Depois, frequentemente se ouve o cidadão comum declarar que votar é perda de tempo, porque não adianta nada, que já não acredita no que sempre lhe disseram ser o voto a arma do povo; porque, afinal, são todos iguais e sempre os mesmos e não se pratica a alternativa, mas, apenas, a alternância de poder.
Ademais, penso eu que as qualidades e ideias dos líderes não são as melhores e, até, muito pouco inspiradas e inovadoras se apresentam; e, sobretudo, a maior parte deles não tem a humildade em assumir que não sabem tudo e que tem defeitos e limitações como seres humanos que são; como, igualmente, lhes falta a capacidade de irem aprendendo com o que constantemente acontece, corrigindo trajetórias, programas, rumos.
Também, a mesma sondagem mostrou que 52% dos inquiridos respondeu que nunca ou quase nunca fala ou discute política com os amigos, os colegas de trabalho ou em família; E, assim, somente um reduzido número (10%) de cidadãos assume que tem interesse na política e se preocupa com os resultados práticos da governação do país.
Pois bem, não acreditar num líder é um fator decisivo para o desinteresse na política e consequente descrédito na eficácia da democracia; e este alheamento e falta de paixão democrática conduz à não filiação; mas, essencialmente, à ausência de militância partidária e, até, à permanente desfiliação que cada vez mais está a acontece.
Agora, atentemos nesta realidade: nos finais do século XX, mormente nas décadas de 70 e 90, a democracia estava, na maior parte dos países, no seu auge, fruto do empenho, engenho e arte de líderes carismáticos e da vontade dos povos; mas, hoje, passadas apenas cerca de três dezenas de anos, ela começa a regredir e sente-se ameaçada pelo avanço de partidos e movimentos extremistas, quer de esquerda, quer de direita.
E, deste modo, a democracia – regime político que na sua génese garante eleições livres e justas, que respeita a liberdade de pensamento, que se bate pela igualdade e justiça social, que atende aos direitos das minorias e que garante o Estado de Direito – sofre já permanentes e vários retrocessos, desvios e atropelos aos direitos cívicos e liberdades fundamentais, como se vai verificando já em países como os Estados Unidos da América, a Venezuela, a Hungria, a Turquia, a França, a Holanda e a Alemanha, países estes onde crescem e medram partidos e movimentos extremistas, populistas e nacionalistas.
Por isso, começam a desenhar-se já movimentos e opiniões favoráveis à obrigatoriedade de votar, penalizando os cidadãos que se abstenham ou nutram pela democracia desinteresse. Mas, será que o voto obrigatório resolveria o problema da falta de interesse e descrédito pela política e pelos políticos? Sinceramente penso que não; e, quando muito, apenas resolvia o problema da abstenção, pois a penalização mais não é do que um ato de violência sobre a liberdade e opção do cidadão em querer ou não querer votar; e isto, sinceramente, nem as ditaduras o fazem.
Então, só temos um caminho a seguir e que passa pelos líderes políticos serem capazes de cativar, motivar, sensibilizar e apaixonar os cidadãos pela vida democrática e nunca fazendo uso do castigo ou da punição; e, sobretudo, na certeza de que, como dizia Churchill, a democracia é a pior forma de governo com a exceção de todas as outras; e eu acrescento que mesmo assim ainda vale bem a pena.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Desinteresse pelos políticos e pela política
DM
19 setembro 2018