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(Des)igualdades

1. A igualdade é uma palavra repetida com frequência. E a verdade é que somos todos iguais. Não é necessário invocar o artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa onde se afirma que «ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual». Todos somos seres humanos. Todos somos pessoas. Todos somos, na perspetiva cristã que perfilho, criaturas e filhos de Deus. Por todos morreu Jesus Cristo.
Todos temos os mesmos direitos fundamentais.
Mas sendo iguais, também somos diferentes, e é imperioso que nos aceitemos como seres iguais e diferentes que somos.
2. Não vou na igualdade de género que por aí apregoam.
Que ninguém seja discriminado em razão do sexo, inteiramente de acordo. Que o trabalho produzido por uma mulher tenha uma remuneração idêntica à do trabalho feito por um homem, inteiramente de acordo. Que à hora de exercer determinada função se escolha a pessoa mais capaz, independentemente de ser homem ou mulher, inteiramente de acordo. Que na família as tarefas domésticas sejam distribuídas por todos para não sobrecarregar a mulher e que as meninas não sejam educadas para serem criadas dos rapazes, inteiramente de acordo. Mas essa igualdade não faz com que a mulher deixe de ser mulher ou o homem deixe de ser homem. Recuso-me a eliminar o vocábulo pais substituindo-o por progenitores.
3. Somos todos iguais mas temos carteiras diferentes. Invocar a igualdade para ter tudo o que outros possuem é uma utopia. Somos todos iguais, mas uns têm capacidade para possuir um Mercedes topo de gama enquanto outros se têm de contentar com uma viatura modesta. Somos todos iguais, mas enquanto uns podem fazer um cruzeiro pelo Mediterrâneo outros têm de se contentar com uns passeiozinhos de transporte público.
Somos todos iguais, mas cada um anda com as pernas que tem.
4. Há apregoadores de igualdades que, na prática, não atuam como se todos fossem iguais. Bastou, em abril, uma greve dos condutores de matérias perigosas para o demonstrar. Para alguns senhores os cidadãos de Lisboa e do Porto são mais cidadãos do que os do resto do país.
5. Os cidadãos de localidades pouco povoadas, como acontece no interior do país, são diferenciados negativamente em relação a outros. Porque têm um reduzido peso eleitoral, são tratados como cidadãos de segunda.
Para a generalidade dos nossos políticos o que conta são os votos. Há um cuidado extremo em procurar que nada falte a localidades onde se concentra um grande número de eleitores. Quanto às outras…
6. Há apregoadores da igualdade que se consideram merecedores de atenções especiais. Sempre que lhes convém, apadrinham castas de privilegiados.
7. A obsessão pela igualdade leva à decisão, em minha opinião injusta, de oferecer manuais escolares gratuitos a todos os alunos do ensino público, até ao 12.º ano de escolaridade, independentemente da situação económica das respetivas famílias.
Porque é que quem pode pagar não há de pagar?
8. Que todos somos iguais na natureza e no que toca a direitos fundamentais e devemos ser tratados como tal, inteiramente de acordo. Que todos, diante de um guichet, sejam objeto de igual tratamento, pondo termo a situações em que uns têm de aguardar na fila enquanto outros têm tudo resolvido na hora ou até possuem quem lhes leve as coisas a casa, inteiramente de acordo.
9. Que no relacionamento entre as pessoas haja para com todos uma atitude de respeito e de consideração, evitando qualquer tipo de discriminação.
Que se não reivindique um tratamento igual para o que de facto é diferente.
Que a defesa da igualdade não seja pretexto para recusar atenções especiais a quem delas precisa, como é o caso das crianças, dos idosos, dos doentes.

Autor: Silva Araújo
DM

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23 maio 2019