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Desastroso, desumano e feio…

O recuo da administração Trump na inadmissível e condenável separação dos filhos dos detidos apanhados na fronteira entre o México e os Estados Unidos talvez tivesse impacto com a manifestação pública de desagrado de Melania e Ivanka, mulher e filha do presidente norte-americano, em sintonia com os protestos da sociedade norte-americana e com a campanha de sensibilidade internacional, exigindo a imediata revogação de uma ordem sem nexo e desumana à luz dos direitos humanos e dos direitos da criança, mesmo tendo em conta o abandono dos EUA do Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

Compreende-se que o fluxo migratório em território americano, europeu ou noutras partes do mundo, tem causado sérias perturbações estruturais, sociais e económicas, em alguns casos em vias de rutura, para enfrentar um problema muito grave na resposta às necessidades básicas dos emigrantes, tais como o direito à educação, à saúde, à previdência social, à liberdade de pensamento, de expressão ou crença, ao valor de igualdade de oportunidades, ao respeito pela convicção e consciência.

Por outras palavras: "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."

Esta desastrosa e feia tentativa de separar os filhos dos pais ilegalmente no espaço territorial dos EUA já tinha acontecido em 1995, com a detenção de 1940 adultos na fronteira com o México, separando as crianças dos seus pais, provocando grande indignação e revolta à escala global por parte das organizações políticas e ONGs, intransigentes na inadiável defesa da “Declaração dos Direitos Humanos” da Organização das Nações Unidas.

Donald Trump caiu no pecado “mortal” e mais uma vez ficou pessimamente na fotografia, pelos seus famosos e mediáticos decretos agressivos, ao retomar uma medida intimidatória, condenada à nascença, falida na política da tolerância zero ao processo imigratório clandestino e reforçando a sua já assombrada imagem de pior presidente da história dos Estados Unidos.

A primeira-dama Melania percebeu cedo que esta lei iria colidir com a sensibilidade moral e ética da sociedade norte-americana e internacional, deixando bem vincada uma declaração de que “temos de ser um país que segue as leis, mas também um país que governa com o coração”.

Ivanka Trump fez perceber ao seu pai que odeia ver famílias separadas, dizendo-lhe qual a leitura que faria ao ver os seus filhos colocados em gaiolas separados da sua família e, tocando-lhe no tal “coração”, decretou de imediato a ordem presidencial e a normal devolução dos filhos às famílias em regime de detenção.

Apesar desta política da administração Trump ser nova e endurecida, este processo diabólico da tolerância zero à imigração tem raízes embrionárias em George Bush, em 1995, continuando com a governação de Barack Obama, na expansão do muro fronteiriço e em número reduzido e omisso à opinião pública, a separação extemporânea de crianças das suas famílias, colocando-as sobre a custódia do Departamento de Saúde e Serviços Humanos Americano (HHS).

Ainda bem que o Mundo inteiro se levantou numa só voz contra a violência desastrosa, desumana e feia de Trump, deixando-lhe uma clarividente mensagem de que os problemas da imigração não se resolvem ofendendo descaradamente os direitos da criança e os Direitos Humanos.

Trump cedeu à pressão oriunda de todas as direções, assinando uma ordem executiva para acabar com a separação das famílias na fronteira, esperando que esta triste lição lhe sirva de reflexo na contenção dos seus atos governativos e na expetativa de que jamais seja repetida, seja em que lugar for do planeta.


Autor: Albino Gonçalves
DM

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25 junho 2018