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Desassombro

Dei comigo a pensar: Porque é que decidi ser professor? Professor de Educação Física? Ao longo destes últimos anos, só ouço dizer que os “professores são uns privilegiados”, que “ganham muito dinheiro”, que “têm mais férias que os outros trabalhadores”. É muito evidente, que a figura do professor sofreu uma enorme desvalorização social. Dei por mim a pensar: Mas então porque é que sou professor? O que me levou a aceitar esta profissão como uma missão? Decidi ser professor de Educação Física, quando era quase vergonhoso andar de fato de treino na rua. A minha disciplina foi, e de vez em quando continua a ser, desvalorizada, mal tratada. Tenho a carreira congelada. Desde 2009 que o meu vencimento é cada vez mais curto. Desde essa altura que ganho o mesmo. Entre tantos contras, como consigo encontrar motivação para continuar a acreditar na importância desta inegável e digna missão? Na busca das respostas encontrei alguns pontos que me convenceram! O primeiro ponto, mas não o único, que me despertou o rol de respostas foi: ter tido a oportunidade de partilhar inolvidáveis momentos com professores que me influenciaram pelo seu exemplo. Ter sentido uma verdadeira dedicação à causa, à profissão. Pessoas com a capacidade de conduzir e inspirar. Pessoas de enfrentar desafios, com o desassombro de quem quer muito. Docentes que transmitiram conhecimento, com convicção, com interesse. Pessoas que transmitiram valores, a genuína “paixão pela educação”, com uma capacidade anormal de harmonizar as relações humanas e de extrair o melhor dos outros. Pessoas que ainda hoje fazem diferença. Agora, que estou numa situação de poder conhecer algumas realidades diferenciadas, outras diferenciadoras, posso perceber a real importância de ser professor. Hoje, todos compreendemos que as tarefas estão cada vez mais complicadas e burocráticas. Mas continuo a sentir que muitos professores continuam a inspirar as ações, orientar os pensamentos, influenciar os comportamentos dos que os rodeiam. Hoje, valorizo, muito mais, a atuação de muitos professores que tive a oportunidade e o privilégio de ter no meu percurso. Pessoas que marcaram e que ensinaram o valor e a importância da escola, da educação, do conhecimento, do comprometimento e do compromisso. A empatia, a coerência, a comunicação, a dedicação e o respeito, são cinco pilares que lhes identifiquei para me seduzirem para esta missão. Em suma, professores que me deixaram vontade de os “seguir”. Há, com certeza, muito a melhorar no ensino, mas não podemos deixar de acreditar no papel que o professor deverá assumir na sociedade. As medidas inconsistentes, e muito menos, os atos que afetam prestígio da classe docente, não beneficiam a eficácia do seu papel, nem o papel que a Escola, no seu todo, deverá assumir. O grande desafio é continuar a acreditar que vale a pena procurar alunos com chama, jovens com brilho, vale a pena investir na juventude, vale a pena lutar pela profissão, vale a pena dizer, sem sombras, sem fumaça, sem receio: sou professor! Com muito orgulho!
Autor: Carlos Dias
DM

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26 outubro 2018