Na Mensagem com data de 14 de Setembro, apoiando-se na passagem de Actos 26, 16: «Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste», em que Paulo narra a própria transformação que se deu na sua vida depois deste encontro pessoal com Jesus a quem ele perseguia, o Papa Francisco apela a que os jovens saibam levantar-se. «Quando um jovem se levanta é como se o mundo inteiro se levantasse».
«Só muda a vida um encontro pessoal, não anónimo com Cristo… Não basta ter ouvido outros a falarem de Cristo; é necessário falar com ele pessoalmente. No fundo, rezar é isto. É falar directamente com Jesus, embora porventura tenhamos o coração ainda em desordem, a cabeça cheia de dúvidas ou mesmo de desprezo por Cristo e pelos cristãos».
Para aqueles que dizem: «Jesus sim; a Igreja não», afirma o Papa: «Não se pode conhecer Jesus se não se conhece a Igreja. Só se pode conhecer Jesus por meio dos irmãos e irmãs da sua comunidade. Ninguém pode dizer-se plenamente cristão, se não viver a dimensão eclesial da fé».
Mais: «Para Deus, não há pessoa que seja irrecuperável. Através do encontro pessoal com Ele, é sempre possível recomeçar». Para a verdade desse encontro, é necessária a humildade, a consciência dos próprios limites e falhas, pois a humildade é a verdade. E é possível «converter-se e renovar-se na vida ordinária, realizando as coisas que costumamos fazer, mas com coração transformado e com motivações diferentes».
Quando Deus irrompe na nossa vida, não nos anula, como não anulou Paulo, «mas usa os seus dotes para fazer dele o grande evangelizador até aos confins da terra», porque a lógica divina «pode fazer do pior perseguidor uma grande testemunha».
Francisco elenca os desafios concretos: «–Levanta-te e testemunha a tua experiência de cego que encontrou a luz; viu o bem e a beleza de Deus em si mesmo, nos outros e na comunhão da Igreja que vence toda a solidão. – Testemunha o respeito e o amor que se podem estabelecer nas relações humanas, na vida familiar, no diálogo entre pais e filhos, entre jovens e idosos. – Defende a justiça social, a verdade e a rectidão, os direitos humanos, os perseguidos, os pobres e vulneráveis, aqueles que não têm voz na sociedade, os emigrantes. – Levanta-te e testemunha o novo olhar que te faz ver a criação com olhos cheios de maravilha, te faz reconhecer a Terra como a nossa casa comum e te dá a coragem de defender a ecologia integral. – Levanta-te e testemunha que as existências fracassadas podem ser reconstruídas; as pessoas já mortas no espírito podem ressuscitar; as pessoas escravizadas podem voltar a ser livres; os corações oprimidos pela tristeza podem reencontrar a esperança. – Levanta-te e testemunha com alegria que Cristo vive! Espalha a sua mensagem de amor e salvação entre os teus coetâneos, na escola, na universidade, no trabalho, no mundo digital, por todo o lado».
Para levar por diante todas estas tarefas, não é necessário ter adquirido primeiro muitos conhecimentos científicos: «Se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe dêem muitas lições e longas instruções. Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus».
Não nos enganemos. O grande trabalho a desenvolver com os jovens é proporcionar-lhes mais ocasiões de um verdadeiro encontro pessoal com Cristo. Sem ele, teremos turistas da fé, mas não verdadeiros peregrinos que abrem e apontam caminhos de renovação e salvação. Que a preparação para as Jornadas de 2023 em Lisboa não passe ao lado do essencial.
Autor: Carlos Nuno Vaz
Desafio a viver como verdadeiros peregrinos e não como turistas da fé

DM
20 novembro 2021