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Democracia doente?

As regionais de França mostraram ao mundo que 65% dos eleitores abstiveram-se de votar. Neste país que influenciou outros países para a libertação das mentes e pensamentos sobre a “soberania” do povo, encontra-se agora numa descrença das sua gentes quanto ao valor dessa democracia que tanto custou a ganhar na revolução francesa. Dá que pensar e enumerar as causas desta tamanha indiferença! Não sei expressá-la porque “só sabe do convento quem vive lá dentro”, mas fazendo uma extrapolação para os portugueses poderemos dizer que a França se encontra sob o signo de três dês: desistência, descrença e distanciamento. Os franceses desistiram dos seus políticos e os poucos que ainda são resistentes a desistentes disseram que não querem nem amam os extremismos. Desistência que tem a justificação na descrença. Os políticos prometem o que sabem não poder cumprir e depois vem a descrença nas suas promessas. O povo está cansado de ser enganado e sente-se frustrado e traído. A democracia pode estar doente por causa destes maus servidores? Julgo que não porque a democracia é um ideal e este nunca será comprometido pelos seus prosélitos. Quem abusa da democracia não é um verdadeiro democrata. Assim como o mau filho desonra o pai, o mau democrata desonra a democracia. O que vale é que há mais força numa democracia do que na força junta daqueles que a atraiçoam. Esta política porque está velha, é mentirosa, interesseira e mesquinha, fica de lado a mirar-se a si mesma com o cheiro a bolor. Quantos foram os políticos que já foram condenados por ação danosa de governação? Porquê tantos? Há que buscar novas políticas, aquelas que cheguem realmente ao povo como se fosse uma economia real. Esta serve para encher o meu frigorífico e não serve para o encher de promessas vãs e ocas; este sino está rachado. Abram os olhos porque se teimarem em continuar a enganar o povo com a vossa demagogia, a abstenção de 65% vai parecer um bom resultado. Corre nos espíritos de imensa gente que a mudança prometida é uma promessa sucessivamente badalada e sucessivamente adiada; verifica-se que afinal a mudança não passa duma mudança de cadeiras. E isto é uma marca que cada vez mais se impõe como um ferrete. Democracia desbotada? Não, o que há é democratas que tem a cor do interesse pessoal. Dizem eles: não recebo lições de democracia de ninguém. Deveriam recebê-las com regularidade pelo menos com a regularidade das suas tentações para dela se servir. Ninguém recebe ensinamentos de democracia mas a verdade é que esta deveria ser um catecismo e não um oportunismo. Se querem resguardar a democracia mudem de “democratas”. O sistema não mudará senão através dos eleitores. A dificuldade da governança não é tão complexa que não possa ser exercida por um vulgar cidadão. A exaltação da complexidade é um mito. Ninguém é antes de o ser.

DESTAQUE

Quem abusa da democracia não é um verdadeiro democrata. Assim como o mau filho desonra o pai, o mau democrata desonra a democracia.


Autor: Paulo Fafe
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5 julho 2021