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Deixem de massacrar os professores com trabalhos excessivos

Durante a minha carreira, como professor, tive duas partes distintas: A primeira foi maravilhosa com um bom ambiente nas escolas. Não havia, praticamente, trabalho burocrático, mas sim o essencial para se poder trabalhar, eficazmente, com os alunos. O ano letivo acabava com as reuniões de avaliação, reuniões com os encarregados de educação, matrículas e pouco mais. A preparação do novo ano letivo fazia-se, sobretudo, com reuniões de programação da parte letiva e não letiva, sem exageros, estando os professores motivados para se entregarem, com todo o empenho, ao processo de ensino/aprendizagem Os pais/encarregados de educação eram, no geral, interessados, respeitadores e muito empenhados na vida escolar. Dificilmente, havia casos de agressões verbais e mesmo físicas a professores. Enfim, existia ordem, educação e respeito; os auxiliares de educação conservavam-se animados, alegres e sempre cuidadosos nas suas tarefas escolares respetivas, pois eram respeitados pelos discentes, não ouvindo palavrões, desobediências, nem qualquer tipo de ofensa; os professores estavam livres de grandes tarefas burocráticas, administrativas… apenas o essencial para se entregarem, com todo o seu ânimo, aos alunos. Ambientes saudáveis, de grande entrega, de bastante sucesso real, de grandes convívios nas escolas e fora delas. Quantas horas dávamos à escola, livremente, na preparação de atividades extracurriculares, sem stresses. Na altura, não se exagerava. Havia quatro atividades essenciais ao longo ano: Festa do Natal, procurando-se contextualizar a quadra respetiva (teatro, canções de natal, recitação de poesias, uma ou outra dança…); Carnaval com desfiles característicos, envolvendo o meio; Páscoa com variadas ações alusivas, não esquecendo, nas escolas em que lecionei, sobretudo no Norte, a Comunhão Pascal que quase 100% da comunidade educativa fazia questão de estar presente e, finalmente, a visita de estudo, no término do ano letivo, para todos, visitando locais aprazíveis do nosso país. Hoje, felizmente, ainda se conservam alguns desses bons costumes, mas estão a tornar-se, ao contrário do passado, minoritários com grande tendência de contágio que deve ser invertida para que o ambiente das escolas retome, na sua totalidade, o caminho da verdadeira formação de cidadãos. Nos últimos anos, senti e sinto, a escola degradar-se a um ritmo assustador: professores cansados com imenso trabalho burocrático. Para que servem, por exemplo, estas provas de aferição para os alunos e professores se os resultados são conhecidos após todo o processo avaliativo? Os próprios alunos, sabendo que a prova não os avalia, fazem-na, com certeza, sem a verdadeira motivação, sendo os seus resultados, entendo eu, deturpados, mesmo que sejam apenas para avaliar os professores e, até, o próprio sistema! Cansam os docentes a corrigir essas provas com exigentes parâmetros, para quê? Não há Ministério que produza tanta legislação como o da Educação. Estudos e mais estudos, cada Ministro, sua sentença. Implementam-se medidas, fazem-se formações, reuniões para, logo a seguir, estar tudo ultrapassado. Segundo a Fenprof, determinada escola de Braga fez, durante o ano, 56 reuniões por causa da escola inclusiva, acham que isto é normal? Qual o interesse da mudança constante das nomenclaturas? Agora, domínios, aprendizagens essenciais, estratégias de ensino orientadas para o perfil dos alunos, técnicas/instrumentos de avaliação, descritores do perfil dos alunos… para, no fundo, convergir tudo no mesmo. Só com uma diferença, teorias e mais teorias e cada vez mais indisciplina e desorientação da classe docente. O que passamos com o estudo dos objetivos gerais, específicos, comportamentais, interdisciplinaridade, área escola, área de projeto… ações e mais ações, resultado: apenas um enriquecimento vocabular, pois a essência é sempre a mesma com o prejuízo do cansaço dos professores, completamente exaustos com imensos relatórios, dossiês volumosos, tantas reuniões; trabalhos de casa… Ninguém imagina o trabalho de casa dos professores, com períodos totalmente dedicados à escola em desprimor da família. Deixem de massacrar os professores com trabalhos desnecessários, deem-lhes condições de trabalho, sobretudo na implementação da disciplina nas escolas, criando legislação para que os nossos estabelecimentos escolares voltem às suas verdadeiras funções. Sigam o exemplo das escolas privadas, tão odiadas por determinada classe política, que nos continuam a dar verdadeiros exemplos de sucesso na formação dos seus alunos.
Autor: Salvador de Sousa
DM

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25 julho 2019