2. «Pela sua delicadeza particular, escreveu o Papa, a idade infantil tem necessidades únicas e irrenunciáveis. Em primeiro lugar, o direito a um ambiente familiar saudável e protegido, onde possam crescer sob a guia e o exemplo dum pai e duma mãe; em seguida, o direito-dever de receber uma educação adequada, principalmente na família e também na escola, onde as crianças possam crescer como pessoas e protagonistas do seu futuro próprio e da respetiva nação.
De facto, em muitas partes do mundo, ler, escrever e fazer os cálculos mais elementares ainda é um privilégio de poucos. Além disso todos os menores têm direito de brincar e fazer atividades recreativas; em suma, têm direito a ser criança».
3. Cita-se, com relativa frequência, um poema de Fernando Pessoa onde se diz que o melhor do mundo são as crianças. São-no, de facto, mas nem sempre são tratadas como tal. A começar pelas circunstâncias em que são concebidas, dadas à luz e registadas.
Não deixa de ser significativo, por exemplo, que tenha crescido em Portugal o número de filhos de pais incógnitos. Porque há indivíduos que não assumem a responsabilidade dos seus atos? Porque a vergonha ou coisa semelhante leva a ocultar o nome do pai? Porque a mãe não sabe mesmo quem é pai do filho que concebeu e gerou?
4. Todas as crianças têm um pai e uma mãe, a quem agora os ideólogos da moda querem chamar só progenitores. E todas têm o direito de saber quem eles são. Uma criança que o desconhece fica marcada pela vida fora. Mesmo que se trate de uma criança rica, a ignorância de quem é o pai ou a mãe é algo que a empobrece.
5. O respeito pela criança principia em casa. É um ser humano como os demais, com as suas caraterísticas próprias, e não uma coisinha fofa que se mostra aos amigos como se se tratasse de um qualquer brinquedo. A criança tem a dignidade de ser humano e de filha de Deus, que lhe deve ser respeitada em todas as circunstâncias.
Tendo o direito de serem felizes, há crianças que são criadas num ambiente de violência e de medo. O respeito que lhes é devido tem muito a ver com a forma como são tratadas pelos adultos, que às vezes delas se servem e as exploram. Há condições de vida incompatíveis com o respeito devido às crianças.
6. Ser pai e ser mãe deve ser uma vocação, mas a experiência demonstra haver pais e mães que a não têm. Por isso há meninos e meninas que, para seu bem, são retirados à guarda dos pais. Mas uma criança institucionalizada ou adotada não deixa de ser criança e de ter o direito de ser tratada como tal. Deixem a criança ser criança. Deixem-na brincar. Não exijam dela que seja um adulto à força. Deem tempo ao tempo.
Autor: Silva Araújo