Tempo novo, repetido mil vezes, talvez com convicções vazias e desconcertadas, de conveniências circunstanciais e de interesses grupais, mas repetido até à exaustão à procura dos incautos ou de mentes ingénuas que fazem de conta que ainda acreditam. Acreditar num jogo de sombras, de fantasias e de ilusões que nos vão impingindo sem piedade como destino bem concreto e definido. Ideologias impregnadas, só de essências aromáticas e inebriantes, que se esvaem das bocas dos arautos da boa nova, levando ao torpor e à esperança (qual esperança?) de todos os que se sentiram e sentem do outro lado da vida. Porque, de facto, há o outro lado da vida: marginal, insensível, acomodado.
Do outro lado da vida, sacudido das pavoneadas sociedades que rejeitam miscigenações de bolsas exangues. Acreditar num tempo em que os ódios e o desprezo pela dignidade dos outros avança a ritmos assustadores. Estes arquétipos de violências propositadas ganham corpo e dilaceram almas. Que importa que o “sangue do infiel” se derrame nas veredas da incultura e da intolerância? Sim, o que importa! Nada.
Aqui e ali, “mochilas” descarregadas em sítios de gente, carregadas de pregos e de lâminas, de fanatismos e de mentiras manipuladas por mãos e por mentes doentias semeiam o terror e a incompreensão. Proselitismo sem dúvidas e ciente de um paraíso adornado de donzelas virgens, empurram estes “heróis” para o martírio das quimeras.
Porquê? Inexplicável à luz da razão e de um mundo construído de dúvidas permanentes. Porquê esta gente eleita se refastelar no banquete da ignomínia e da corrupção, quando se comprometeu servir com rectidão quem lhe depositou confiança? Porquê? Questões, sempre mais questões, desafiando a crueza e a existência material de verdades incómodas que fazemos de conta que estão longe do nosso olhar. Longe do sentir deste ser que ainda acredita na mensagem sublime do Homem de Nazaré.Talvez, em vão, porque os tempos são travessos à licitude e à verdade. Sempre a verdade, maltratada pelas ideologias das igualdades, das fracturas culturais e das arrogância políticas.
As certezas, contudo, são escassas e as que existem, ou melhor, a que existe leva-nos ao encontro com o Criador. Aqui, neste enlace, ditado pela mãe-natureza, se inscreve a nossa pequenez perante o mistério da vida. Se assim é, o incompreensível desta demanda insensata do certo, joga-se, simplesmente, no campo do efémero e do passageiro. Do volátil e do vazio. Sem explicação. Sem uma explicação plausível capaz de sustentar este imbróglio que nos comove, que nos atemoriza, que nos aprisiona num casulo translúcido, feito de coisas fluídas. Ou será o ponto final deste ser divino intrinsecamente insatisfeito e desafiador? Interrogações muitas. Dúvidas, sempre presentes e em movimentos constantes. Certezas? Quais certezas? Não sei!
O homem e as suas contradições, com as suas inquietudes. Porquê esta ambição de olharmos o mundo com os olhos das puras demagogias, desfocados de uma realidade que preferimos imitar o velho conto da avestruz. É sempre mais fácil fazer de conta que o mundo gira pelo nosso lado.
Autor: Armindo Oliveira