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O “1º milagre das rosas”). Eu andei na escola primária ainda no tempo do Salazarismo-Marcelismo. E nesses tempos de “penosa, nefanda e execrável autocracia”, ensinava-se contudo História a sério. Aprendia-se a sucessão completa dos reinados e dinastias, desde Afonso Henriques até ao golpe republicano de 1910. E ficávamos com uma ideia geral do que acontecera em cada um daqueles períodos históricos. A que acrescia a narração de alguns cenários ou episódios históricos mais marcantes ou extraordinários, de forma a aumentar o interesse dos alunos por essa fantástica, incomparável e interminável “telenovela”, que é a História; a “pátria” ou mais ainda, a “universal”. Os professores falavam-nos da batalha de Ourique (contra “7 reis mouros”); do trágico romance de Pedro e Inês; do ascético e obstinado infante D. Henrique; da cruel morte (e exibição de cadáver) que em 1443 os marroquinos deram ao nosso heróico Infante Santo D. Fernando; do “monstro Adamastor” e do Cabo da Boa Esperança; da estúpida aventura magrebina que vitimou o jovem rei D. Sebastião e boa parte da nobreza, nas “areias” de Alcácer-Quibir; da Restauração em 1640; do terramoto de 1755, do Marquês e da execução dos Távoras; da fuga de D. João VI para o Brasil; da guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel; e doutros célebres episódios. Um destes é o famosíssimo “milagre das rosas”; no qual a generosa Rainha Santa (Isabel) levava no regaço uma grande quantidade de pães para dar aos pobres de Coimbra; e nesse momento aparece D. Dinis, seu marido, que a “censurava pelas suas habituais liberalidades”; então, a Rainha, receosa, desdobra o avental e os pães transformam-se em rosas; e diz: “são rosas, senhor!”.
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O apego quase fanático de Coimbra, à sua Rainha Santa). Sou disso testemunha, eu que sou filho de uma Isabel e que acabei o meu curso de Direito em Coimbra. E que nasci, a 4 de Julho, dia da morte da Rainha, em 1336. E que tive um bisavô materno natural da cidade, homem do povo, ligado aos caminhos de ferro e que foi contramestre das oficinas da CP, em Ovar. Era republicano e adepto de Ant.º José de Almeida. Porém, por ser católico, tirava o chapéu sempre que passava em frente duma igreja e designava D. Isabel pela “rainha-santazinha”. O certo é que eu próprio, há menos de 10 anos estive em Coimbra no dia da procissão, debaixo de um calor tórrido e solene devoção silenciosa da multidão; e, reconheço, parecia haver ali uma qualquer electricidade especial que nos perturbava; o alívio vinha com a entrada intermitente da banda de música. Nascida em Aragão (1271?), Isabel era filha do rei Pedro III; mas era sobrinha (materna) de uma outra St.ª Isabel (Elsbetha), rainha da Hungria (1207-31). Casou com D. Dinis em 1282 e evitou a guerra entre ele e seu filho Afonso IV. Morreu de doença e exaustão em Extremoz, quando tentava evitar a guerra entre o mesmo Afonso IV e o rei Afonso XI, de Castela.
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O “2.º milagre das rosas”). Fala-se agora aqui, do “processo Marquês”. O qual lembra um pouco o tal milagre da transformação isabelina do pão (autêntico) em prodigiosas rosas. Desapareceu toda uma realidade material (o pão) e apareceu outra coisa (rosas), sem grande utilidade ou significado próprio. Novamente, “são rosas, senhor!”; mas desta vez, as rosas são “de outro rosário”… Durante quase 8 anos, o País assistiu a toda uma panóplia de indícios, em vários processos, em que o antigo PM José Sócrates parecia estar envolvido. Fugas de informação jornalística, gravações probatórias, gravações destruídas por Pinto Monteiro e pelo conselheiro Nascimento. A longa fase de inquérito, conduzida pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador Rosário Teixeira, dava ideia de que o novo juiz, agora na fase de instrução (Ivo Rosa), só poderia acusar. Porém este, madeirense, diz que a maior parte dos indícios eram inexistentes ou “fantasiosos” e que Rosário deixou passar o prazo em factos capitais que agora já estão prescritos. Só vai acusar por “branqueamento de capitais” e “falsificação de documentos”.
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Uma “guerra das rosas”, à portuguesa). A Inglaterra teve, entre 1455 e 1485 uma guerra dinástica entre as casas de York (rosa branca) e de Lencastre (vermelha), símbolos que permanecem ainda hoje nas cores do Leeds e do Liverpool. Algo de semelhante parece acontecer agora em Portugal, no “processo Marquês”. Há um procurador, de nome “Rosário” que fez diligentemente o seu trabalho, do qual se esperava ver a justa sequência acusatória. E há um juiz, de nome “Rosa”, que deita quase tudo para o “cesto dos papeis”, que tudo desvaloriza e (à maneira do antigo PGR Cunha Rodrigues), tudo arquiva. A corrupção só se prova pela prova indirecta, que Ivo Rosa é conhecido por desprezar.
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Coincidências onomásticas). O sobrenome “Rosa” já tinha sido bastante antipático a Portugal, pela traiçoeira obra descolonizadora que o almirante Rosa Coutinho desempenhou em Angola (1975). Outra repetição (despercebida) de nomes, é a de que, agora que se reformou M.ª José Morgado, a não reconduzida PGR, Joana Marques Vidal, ter sido substituída por Lucília (Morgadinho) Gago. Persiste assim, um verdadeiro “morgadio”, na investigação criminal…
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Protagonismo transmontano). As origens aldeãs de Sócrates, M.ª José Morgado, Durão Barroso e do célebre missionário Manuel da Nóbrega distam escassos quilómetros entre si. E não são longe das de Isaltino de Morais, Adriano Moreira, Carlos Magno, José Silvano, Raul Rego, Trigo de Morais, Adão Silva, Almeida Santos, Costa Gomes, Jaime Neves, Alpoim Calvão, Lucas Pires, M.ª de Belém…
Autor: Eduardo Tomás Alves