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De uma pastoral para os jovens, a uma pastoral com os jovens

É desta profunda conversão que fala o cardeal de Madrid, Carlos Osoro, na sua carta semanal de 18 de Outubro em 'Alfa y Omega', em suplemento do jornal «ABC».

Esta pastoral com os jovens, afirma ele, supõe uma mudança de método e de protagonistas. Os jovens devem estar presentes, não apenas como sujeitos activos em programas e acções, mas também como autores dos mesmos. Têm que ser os protagonistas na evangelização dos seus companheiros: quer dos que não conhecem Deus nem tiveram uma experiência forte do Senhor, quer dos que conhecem Deus e que, tendo-O conhecido, se afastaram e têm muitas perguntas.

Os jovens têm que ter uma experiência viva de que a Igreja confia neles. Têm de ser eles a anunciar Jesus Cristo e a verificar com as suas vidas e compromisso que a Igreja de que formam parte não é sua inimiga, mas amiga e mãe que lhes deseja abrir as portas e o seu coração para que conheçam quem é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Este protagonismo dos jovens na evangelização dos seus contemporâneos exige que os adultos confiem neles, os apoiem e colaborem na busca dos caminhos que devem empreender para anunciar o grande Amigo Jesus Cristo. E isto exige uma verdadeira conversão pastoral: passar de lhes dar o que nós, com a nossa maneira de pensar nos parece que seria necessário fazer, a serem eles, com o apoio de todos, a descobrir o que, no mais fundo do seu coração, precisam para realizar um seguimento radical de Jesus Cristo.

Tem de ser a Igreja a confiar nos jovens, entre outras razões, porque não quer perder as características de força e audácia, entusiasmo, alegria e esperança que lhes são tão conaturais. Uma Igreja que deseja apresentar um Cristo jovem entre todos os jovens, que não tem medo de sair ao caminho, e o faz sem se fechar em falsas seguranças.

Não se trata de fazer coisas, nem de que demos aos jovens uma lista de tarefas a cumprir. É o «segue-me» que Cristo disse ao jovem rico, que outra coisa não é que um convite fortíssimo a que mudemos o coração com que amamos. O simples fazer não transforma a vida pessoal nem a colectiva, mas seguir os passos de Jesus, realizar um seguimento radical do Bom Mestre, da sua Pessoa, deixando que penetre no mais fundo do nosso coração, isso, sim, muda a vida. Porque passa por apostar por estar com os pobres, ver neles o rosto de Jesus, deixar-nos acompanhar pela sua Palavra, alimentar-nos da Eucaristia, sarar as nossas feridas no sacramento da reconciliação, contemplar a sua presença na adoração silenciosa...

Foi algo disto que 4 jovens interpelados pela famosa revista «Vida Nueva», n.º 3.104 de 2 a 9 de Novembro, disseram a partir da sua experiência de participação como auditores no Sínodo dos Bispos. Perguntava 3 coisas: a) Qual o ponto mais relevante do documento final; b) Que aspecto poderia ter sido melhorado; c) qual a iniciativa ou medida que a Igreja deve aplicar com maior urgência a respeito dos jovens.

O jovem alemão realçou a afirmação de que as mulheres devem ocupar posições de liderança. Mas notou que falta passar à prática. A Niccole, filipina, realçou toda a terceira parte do documento final, onde se podem ver as respostas dos jovens e como elas foram incorporadas, mostrando que a «Igreja nos escuta de verdade». Realçando ainda que não basta descrever a situação. É preciso avançar e trazer vida.

No mesmo sentido se pronunciou o jovem argentino: «a consciência de que todos somos Igreja que quer fortalecer o acompanhamento dos jovens em qualquer parte do mundo, na sua específica condição». Finalmente, o jovem italiano realçou o espírito com que o documento foi escrito e com que foi votado, mostrando uma «Igreja que escuta antes de falar, que escuta os jovens e que, deste diálogo frutífero, produz um tal documento».

Ressaltam ainda das suas respostas que a Igreja mostrou ter consciência de que os jovens são documentos vivos e que este processo sinodal é para ser vivido no dia a dia. É preciso «sair dos nossos lugares de conforto e segurança para ir aos territórios desconhecidos, mas desde os quais Deus nos está a chamar».

«O mais urgente é compreender quão grave é a situação dos jovens nesta era da globalização, peões em mãos dos populismos e da política da utilidade imediata. O documento não teve medo de se confrontar com esta realidade. E fê-lo com grande honestidade». É urgente sair aos caminhos do mundo e estabelecer um diálogo profundo e amigo com todos, entre todos e para todos.


Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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17 novembro 2018