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Das Letras na Roma Antiga!

Na Roma antiga, como se sabe, uma das formas de difundir a cultura foi a abertura de bibliotecas públicas, a primeira delas foi fundada pela mão do cônsul Asínio Polião, no tempo de Augusto. Mas havia ainda uma outra forma, muito característica da Roma antiga: as leituras públicas ou recitationes, também elas são uma prática iniciada por este mesmo cônsul. De uma época um pouco mais tardia, o escritor romano Plínio-o-Moço, que o imperador Trajano fez governador da Bitínia, na primeira década do séc. II d. C., traz à colação um notável testemunho do divórcio que já nesse tempo se fazia sentir entre a cultura e um público que teimava em se manter afastado da sua esfera de influência. Antes da sua partida de Roma para aquelas paragens nas costas do Mar Negro, este sobrinho de Plínio-o-Antigo havia de publicar em nove volumes as suas cartas. Um décimo volume havia de ser publicado após a sua morte, contendo a correspondência oficial com o imperador Trajano, onde se inclui o célebre Panegyricus. Contrariamente ao seu modelo ciceroniano, as cartas de Pínio-o-Moço destinam-se a divulgação, retratando a vida social, literária e artística do seu tempo, constituindo um instrumento valioso, por exemplo, para o estudo destas leituras públicas. Naturalmente que a sua ascendência de família abastada, que lhe proporcionou uma educação esmerada, em Roma, ao lado de Quintiliano, lhe abriu as portas de um cursus honorum promissor, com o exercício de altos cargos ao serviço dos imperadores Domiciano e de Trajano. Todas estas circunstâncias hão-de explicar, em parte, a sua afeição pelas Letras, como é preceptível neste passo da carta 17 do Livro VI: «Eu, por mim, estou acostumado a respeitar e até a admirar todos os que fazem alguma coisa nas Letras. Elas são difíceis, árduas, fatigantes, e, a quem as despreza, desprezam-no por seu turno». P ercebe-se a sua indignação pois, como ele explica, numa leitura privada, apesar do ‘livro perfeitíssimo’ que acabava de ser lido, ninguém da assistência se dignou levantar para tecer um louvor; é a indiferença do público. Mas esta atitude é ainda mais visível na carta 13 do Livro I (1-4): «Trouxe este ano uma grande produção poética; em todo o mês de Abril quase não houve um dia em que alguém não fizesse uma leitura pública. Apraz-me que a cultura floresça e o talento dos homens surja e se manifeste, conquanto seja a custo que eles se reúnem. A maior parte senta-se na sala geral e gasta o tempo da audição a conversar; de tempos a tempos, mandam saber se o conferente já entrou, se disse o exórdio, se já desenrolou a maior parte do livro; só então, e com todo o vagar e relutância, é que eles vêm; e nem assim fucam, mas saem antes do fim, uns dissimulada e furtivamente, outros com naturalidade e à vontade […] Agora, a pessoa mais desocupada, depois de convidada com muita antecedência e de muitas vezes prevenida, ou não vem, ou, se vem, queixa-se de ter perdido um dia, que na verdade não perdeu».
Autor: António Maria Martins Melo
DM

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2 junho 2018