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Darwinismo social e democracia

1. Naturalista, geólogo e biólogo britânico e considerado uma das maiores personagens da História, Darwin (Charles Robert Darwin), nasceu em 12 de Fevereiro de 1809 e faleceu em 19 de Abril de 1882. Começou por estudar Medicina, mas acabou por se dedicar às Ciências Naturais. Juntamente com Alfred Wallace, propôs a teoria de que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum. E que os diversos ramos evolutivos são resultado da selecção natural e sexual, onde a luta pela sobrevivência resulta em consequências semelhantes às da selecção artificial. Tornou-se especialmente célebre com a publicação do seu principal livro As Origens das Espécies, em 1859, que causou grande polémica na sociedade da época, porque punha em causa a teoria do criacionismo, difundida e aceite pelas igrejas de matriz judaico-cristã, fundamentada na descrição bíblica da criação, até então considerada como um género de relato histórico. Apesar de tudo, o darwinismo foi ganhando a aceitação geral, nomeadamente entre os cientistas e tornou-se uma das teorias com maior impacto social. 2. Contudo, se enquanto aplicado à natureza o darwinismo foi bem aceite, já o mesmo se não se pode dizer quando aplicada à sociedade humana e suas formas, o chamado darwinismo social: aí tem levantado muitas críticas, embora Darwin sempre tenha insistido que as políticas sociais não deviam ser orientadas por conceitos de luta e de selecção da natureza. Sempre foi contra a escravatura. Criticado por muitos como ateu, escreveu que “nunca foi um ateísta, no sentido de negar a existência de Deus; quando muito, um agnóstico”. O darwinismo social tornou-se muito aceite na década de 1890, particularmente nos EUA, Canadá, Austrália… chegando-se mesmo a defender a eugenia para eliminar os indivíduos de “mente fraca”. Nos EUA chegou-se a praticar a esterilização compulsória dos considerados mais facos. Frequentemente usado na década de 1890, o termo “darwinismo social” e tornou-se popular na década de 1940. Nele se fundamentava a teoria nazi da eugenia de criar uma raça ariana pura. 3. Relativamente às polémicas da aplicação do darwinismo aplicado à sociedade humana, um novo estudo, conduzido por Piotr Radkievicz e colegas, mostrou que essa crença no darwinismo social está associado a certas características psicológicas disfuncionais, tais como atitudes de hostilidade e exploração em relação aos outros, baixa autoestima, induzindo a uma visão negativa da natureza humana e defendendo que as pessoas são inerentemente egoístas e que a manipulação cínica é um caminho aceitável. Não pode vale tudo para alcançar os seus objectivos, como defende a mentalidade da lei do mais forte. Para o darwinismo social, o mundo social é visto como uma espécie de selva competitiva implacável para dominar os recursos naturais e onde só os mais fortes sobrevivem. Talvez por isso, o darwinismo académico já esteja a questionar a teoria da sobrevivência dos mais fortes, mesmo ente os animais. O darwinismo social inclui uma visão negativa da natureza humana, implicando que as pessoas são inerentemente egoístas e que a manipulação cínica é um caminho aceitável para progredir na vida. Vê o mundo social como uma espécie de selva competitiva onde só os mais fortes sobrevivem. Esse estudo veio confirmar o conflito entre a crença no darwinismo social e a aceitação teórica universal dos valores humanos básicos. Por exemplo, os darwinistas sociais são mais propensos a demonstrar admiração pelo poder e desejo de dominar. Mesmo em seus relacionamentos mais íntimos, os darwinistas sociais são mais propensos a ter uma atitude de baixa autoestima e um apego temeroso de dominação disfarçado de amor. Felizmente, a consciência colectiva rejeita cada vez mais esses comportamentos, como ainda agora aconteceu, nas eleições autárquicas: o povo rejeitou atitudes eleitoralistas que recorriam a abuso de poder, usando promessas ilusórias para comprar o voto do povo... A selva darwinista social não é compatível com os ideais da democracia, que se baseiam no respeito mútuo e no respeito pela opinião livremente expressa dos cidadãos, sem coacções de poder.
Autor: M. Ribeiro Fernandes
DM

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10 outubro 2021