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Dar o nome a uma rua de Guimarães a João Ferreira das Neves, no cinquentenário da sua morte

João Ferreira das Neves foi um empresário vimaranense de sucesso e um dos primeiros no setor da camionagem, a nível nacional, como muitos vimaranenses ainda se lembram e usaram os respetivos transportes.

O empresário nasceu no dia 28.04.1897 e casou com Amélia de Oliveira Fernandes, ainda muito jovens, vindo a falecer no dia 18 de janeiro de 1970. Os três filhos ainda vivos (de nove irmãos) - Maria Isabel, Clara e Francisco Ferreira das Neves - tiveram a feliz ideia de homenagear o pai pela passagem dos cinquenta anos da sua morte. A revista local “Bigger - magazine” (nº131 - janeiro de 2020), ouviu as filhas, Isabel e Clara, para falarem não só sobre a homenagem que preparavam, mas também sobre a vida e obra de João Ferreira das Neves. Era o quinto filho de 12 irmãos. Começou a trabalhar com cerca de oito anos, como aliás acontecia a muitas outras crianças do seu tempo, sobretudo quando as famílias eram numerosas e era imprescindível o seu contributo para a alimentação dos irmãos.

Apesar da sua iliteracia até aos 40 anos, altura em que fez a terceira classe, tratava-se de um homem inteligente e perspicaz para os negócios, de tal modo que fundou, em 1928, a empresa Ferreira das Neves & Filhos, tendo posteriormente como carreiras principais: Guimarães - Famalicão, Guimarães - Porto e Guimarães - Póvoa de Varzim, competido com outra empresa de transportes - a empresa Soares & Filhos - na captação de passageiros.

O principio do negócio começou com a compra de um carro de cinco lugares, adquirido com o dinheiro que a sua mulher, Amélia, havia ganho num sorteio. Esta “carreta” de cinco lugares haveria de lhe criar a alcunha de “João 12”, por se tratar do 12º carro do género a entrar em Portugal. Com o dinheiro obtido com essa pequena viatura a transportar passageiros, adquiriu outra de 17 lugares. Começou então a fazer, além de outras, a chamada “carreira da Penha”. Depois foi adquirindo, progressivamente,novas camionetas mais modernas, sendo que, no auge do negócio e no período de vigência da empresa, a frota, segundo a filha Maria Isabel, “chegou a atingir mais de 100 camionetas e cerca de 400 funcionários”.

À medida que os negócios prosperavam, João Ferreira das Neves ia investido em imóveis, como, por exemplo, na aquisição do chamadoPalacete das Hortas, situado na R. Dr.José Sampaio, em Guimarães, e mandando construir ao seu lado a garagem para recolha e manutenção das viaturas.

Na descrição da história do referido Palacete das Hortas, incompreensivelmente (ou talvez não) foi omitido este facto, ou seja, que esse imóvel foi adquirido e nele residiu, durante muitos anos, até à sua morte, João Ferreira das neves, com a sua mulher Amélia e filhos.

Na edição do dia 28 de Fevereiro de 2018 do Comércio de Guimarães e na Revista Bigger (nº 109 - Março de 2018), a propósito da apresentação ao público da reabilitação do Palacete das Hortas, o atual proprietário, Fernando Braga, durante uma visita guiada que promoveu junto dos muitos convidados, além de explicar os pormenores do empreendimento, apresentou também a história do Palacete, nos seguintes termos: “O majestoso edifício foi construído em meados do sec. XVIII, pertencendo a uma família de fidalgos espanhois - Aylas - e mais tarde foi adquirido por João Baptista Felgueiras, para sua própria habitação. Nascido em Guimarães em 1790, este homem esteve ligado ao Direito e à política. Á sua morte, em 1848, o Palacete das Hortas viria a sofrer um incêndio e desconhecendo-se quem terá sido o posterior proprietário...”

Na mesma ocasião, Fernando Braga informou o público que adquiriu o Palacete em 1999, mas não informou, de igual modo, quem foram o seus vendedores. Se o tivesse feito teria de dizer que o adquiriu à família Ferreira das Neves. Ora, tratando-se da narração da história do Palacete, a omissão de tais dados, por quem tinha obrigação de os conhecer, constitui, no mínimo, uma falta incompreensível.

Na verdade, João Ferreira das Neves adquiriu o Palacete das Hortas em 1941, para sua habitação e de seus filhos. Por sua morte, o prédio ficou em comum na propriedade dos seus herdeiros, sendo que dois deles ficaram aí a residir e aí nasceram alguns dos seus netos. Em 1999, por escritura pública, os herdeiros de João Ferreira das Neves venderam o prédio a Fernando Braga. Até essa data ali residiram dois dos seus filhos: Luísa e Manuel, com os respetivos netos.

Fica esta breve informação para memória futura, até que uma mais ampla investigação dê a conhecer ao público em geral e, de um modo muito especial aos vimaranenses, toda a história não só do Palacete das Hortas, mas sobretudo a verdadeira importância da empresa Ferreira das Neves na história de Guimarães.

Atendendo ao contributo que João Ferreira das neves deu à economia local e nacional e aos transportes, de que foi um dos pioneiros, torna imperioso que o executivo camarário vimaranense, juntamente com a União das Freguesias da cidade atribuam o seu nome a uma rua (por ex., a uma das novas ruas das Hortas), perpetuando a sua memória. Caso contrário uma parte importante da história de Guimarães cairá no esquecimento.

Parabéns às filhas Maria Isabel e Clara, pela homenagem promovida a seu pai, por ocasião do cinquentenário da sua morte, bem como à revista Bigger - magazine pela cobertura jornalística que deu ao ato da homenagem, contribuindo para um melhor conhecimento de uma figura digna de constar no registo histórico da cidade.

DM

DM

28 janeiro 2020