1. Foi noutra época — e num outro contexto — que se chegou a formulação (por Heisenberg) do «princípio da incerteza».
Mas eis-nos agora — nestes tempos soluçantes de pandemia — a sermos atravessados por uma miríade de elementos incertos.
2. O que não sabemos sobrepuja — de longe — o que conseguimos saber com segurança.
Ficar em casa é seguro. Mas sair de casa será totalmente inseguro?
3. As superfícies são mesmo depositárias do vírus? O uso da máscara habilita-nos a estar mais perto das pessoas?
O facto de nos sentirmos bem garante que não estejamos afectados pelo COVID-19? São tantos os casos assintomáticos…
4. Neste momento, há quem se comporte como se o problema já estivesse (irreversivelmente) vencido.
E, no extremo oposto, não falta quem se mostre de tal modo aterrado como se esta ameaça estivesse a atemorizar-nos a cada instante e para durar indeterminadamente.
5. Não será temerário levar a vida descontraída que muitos estão a levar?
Será que já ponderamos que o perigo para nós pode constituir igualmente um risco para os outros?
6. A própria comunidade científica parece viver mergulhada num infindável «oceano» de incertezas.
Afinal, o vírus apanhou-nos desprevenidos e totalmente impreparados. Quando abranda num local, recrudesce noutro. Quando numa altura é dado como extinto, reaparece tempos depois.
7. Virão novos picos? Sobrevirão outras vagas? A vacina chegará em breve e será eficaz? O medicamento demorará muito?
Vamos ter de esperar por respostas e de viver com todas as precauções e esperança.
8. Não vamos permitir que o vírus nos degole e nos derrote. Vamos continuar a seguir em frente.
Esta é, sem dúvida, uma grande provação. Dá a impressão de que andamos todos desconfiados e a fugir uns dos outros.
9. Que estas máscaras nos advirtam para o imperativo de deixar cair todas as outras máscaras. É frequente não nos reconhecermos ao primeiro contacto. Mas será que, antes, nos reconhecíamos verdadeiramente?
É tempo de nos desmascararmos existencialmente. É hora de cultivar a transparência e a autenticidade na nossa vida. O vírus, que gerou o COVID, está a interferir brutalmente «com a vida».
10. Eberhard Jüngel alertava que, «quanto maiores são as adversidades, tanto maiores são também as oportunidades». Estamos a passar por uma enorme adversidade. Não baixemos «a guarda». Mas também não deixemos desfalecer a esperança.
A esperança não será tudo. Mas é fundamental para tudo. Neste momento, ela é vital para vencer o assédio de todo o mal!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
Da incerteza à esperança

DM
23 junho 2020