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Cuidados intensivos

Não é minha intenção dar lições de moral a ninguém. Não tenho pretensão nenhuma com este artigo de opinião, apenas só isso: dar a minha opinião, sobre uma matéria que me parece nuclear e decisiva para o nosso País. A liberdade facultada pela revolução de abril de 1974, veio realçar a importância da opinião e da expressão livre, e essa foi uma enorme conquista que os nossos pais conseguiram. Porém, ao longo dos últimos tempos o nosso País tem sofrido algumas alterações de conceitos de liberdade que me deixam apreensivo. Liberdade representa responsabilidade. Liberdade representa pensamento critico. Liberdade é o valor máximo de uma sociedade ativa e saudável. A liberdade não pode significar o que me apetece ou quero fazer ou dizer. Liberdade não pode significar segregação, desrespeito, extermínio do pensamento critico ou falta de valores humanistas. Liberdade também implica que perante o erro haja uma condenação e uma punição ajustada. De que vale uma sociedade sem valores, respeito ou princípios? Muitos processos jurídicos do nosso pequeno país continuam a ser meras interpretações de advogados, em detrimento das análises dos factos e dos valores que estão em causa. Continua a ter mais importância a virgula, o tempo de prescrição ou a redação do texto de acusação, do que os crimes ou os atos ilícitos propriamente ditos. São estes enredos nebulosos que fazem levantar suspeitas e descrédito. Os últimos acontecimentos envolvendo alguns treinadores de futebol têm sido péssimos exemplos, para a modalidade, mas acima de tudo para a nossa sociedade. Assistir a um jogo em que se verificam constantes faltas de dignidade profissional, falta de carater, falta de respeito pelos adversários, pelos colegas de profissão, pela autoridade (árbitro), com uso de uma linguagem injuriosa, provocatória e de desrespeito, atentatória da moral dos intervenientes, parece-me que deve ser alvo de forte sanção disciplinar. Como se trata de um desporto, baseado em princípios de elevação do ser humano, mais atenção deveria ser dada a esta situação. Como é que o Desporto poderá ser olhado se sobrevive na base da injúria, da suspeição, do desrespeito e da falta de educação? Quando se assiste à violação dos direitos de um qualquer cidadão, quando se desvaloriza a violência gratuita e se despenaliza o agressor, “beneficiando o infrator”, há uma sociedade que corre sérios riscos. Sempre que existem episódios deste calibre, os responsáveis dos outros clubes, apressam-se em por o dedo em riste, no entanto, quando acontece com “os seus”, enquanto entidade patronal, fogem como o “diabo da cruz”, alegando que não viram, não ouviram, não sabem de nada. Por incrível que pareça, preocupam-se em defender as suas balizas dos ataques adversários, mas fartam-se de marcar autogolos. Os agentes do futebol precisam de se unir, porque a este ritmo, a modalidade entra rapidamente nos “cuidados intensivos” e, aí precisará de medidas mais drásticas de tratamento para se recompor. É preciso perceber o fenómeno, é preciso entender os valores que estão em causa. Como disse o Carlos Carvalhal, “os adversários não devem ser encarados como inimigos”, e, eu acrescento, nem os árbitros como os agentes de “todos os males”.
Autor: Carlos Dias
DM

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7 maio 2021