Toda a gente tem direito a ser respeitada. A falta de sensibilidade de quem julga os outros pode degenerar facilmente em afirmações injustas, quando não em difamações maldosas ou calúnias imperdoáveis, que atentam contra a boa fama e a honra das pessoas visadas.
No entanto, se a justiça exige que tenhamos cuidado no que pensamos sobre os nossos semelhantes, de modo a jamais extrairmos conclusões que não correspondam à verdade, temos também a obrigação de recatar o nosso modo de proceder, para que as atitudes que tomamos não provoquem desnecessariamente conclusões menos favoráveis ao nosso porte e à nossa dignidade. Por isso, devemos ter muito em conta aquele lema antigo, onde se diz que a mulher de César, além de dever ser séria, deve também parecê-lo.
E esta tese é tanto mais aplicável, quanto mais elevado e exposto se encontra um sujeito, na sociedade onde vive. Há diferenças entre um mau passo de um ilustre desconhecido e de uma figura de referência. Ambos devem dar bom exemplo… No entanto, a repercussão de um facto não depende apenas da qualidade moral ou cívica da acção praticada, mas também de quem a pratica.
Entre um pequeno deslize de um dito, por exemplo, de um desconhecido cidadão e de uma personagem relevante a distância é enorme. De certeza que, se no primeiro caso, a comunicação social apenas lhe prestaria – se prestasse! – um mínimo de atenção, no segundo as parangonas noticiosas podiam encher-se, com acinte e repetitividade, de letras gigantes, chamando a atenção para a “bronca” que o senhor célebre tinha cometido.
Esta diferenciação de consequências deve levar-nos a reflectir muito no que fazemos, antes de ultimar uma acção. Não basta ter o direito a... É necessário pensar que se está sempre ma mira e na berlinda, principalmente quando a nossa posição social é relevante. E com facilidade se levanta um fervilhar emotivo de ditos, censuras e opiniões, tão incómodas como desnecessárias, se houvesse maior recato na forma de agir.
A virtude da prudência leva-nos a tirar ilações prévias sobre qualquer medida que tomemos, sabendo que devemos evitar que a nossa conduta possa provocar estranheza ou juízos menos favoráveis. Muito mais, se, numa sociedade de fácil crítica, o escândalo surge como o espirro inevitável quando se está constipado.
Não está em causa o direito, insiste-se, mas os efeitos ingratos que a prudência nos convida a não provocar, omitindo iniciativas ou adiando para circunstâncias mais favoráveis da nossa vida pessoal a sua realização.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva