Ainda intimidados pela COVID-19, mal prestamos atenção a uma outra pandemia que vai alastrando pelo mundo e devastando (igualmente) muitas vidas.
Trata-se da «pandemia do ódio», que parece não dar tréguas com os seus desmedidos tentáculos: insinuações, difamação, calúnias, mentiras, invejas, traições.
Não poupando ninguém, esta «pandemia» consegue até o supremo topete de inocentar os culpados e – o que é mais tenebroso – de culpar os inocentes.
O seu principal epicentro está, não tanto em qualquer chancelaria do poder político, mas no coração humano. Aliás, Jesus (já) nos prevenira: «É do coração do homem» (Mc 7, 21) que procedem os maus pensamentos e as más acções (cf. Mc 7, 21-22).
Quanto ódio não é, hoje em dia, «despejado» sobre os pais, sobre os irmãos e sobre os amigos!
Quantas traições não sobrevêm da parte de muitos daqueles que considerávamos «amigos para sempre»!
Sucede que nem nessas situações haveremos de devolver o que recebemos. Até aos «profissionais do ódio e da traição» é importante oferecer amor.
Se eles não o quiserem receber, que, ao menos, saibam que não é connosco que a espiral do ódio irá crescer.
O amor não pode ser limitado nem selectivo. O amor tem de ser eterno e universal, isto é, para sempre e para todos.
Nem todos o merecerão. Mas, parafraseando Santa Teresa de Calcutá, diria que são os que menos o merecem os que mais precisam dele.
Sendo Deus amor (cf. 1Jo 4, 8.16 e sendo o homem «imagem e semelhança de Deus» (Gén 1, 26), só o amor deveria estar presente no mundo.
Acontece que é grande a tendência para «estacionar» numa concepção meramente sensitiva e instintiva do amor.
Tudo parece centrado na atracção sensual, de teor epicurista, que faz do outro uma fonte de prazer e de satisfação.
Como, entretanto, a atracção pode exaurir-se, dá a impressão de que nada mais subsiste entre as pessoas.
É aqui que urge apelar à «ciência da Cruz», tão luminosamente exposta por São João da Cruz e Santa Teresa Benedita da…Cruz.
É uma ciência que convoca mais a vivência do que a compreensão. De facto, como compreender que se ame quem odeia, quem trai ou quem já não atrai?
Irrealizável? Thomas de Kempis sinalizou que «só muito faz» quem «muito ama».
E só muito ama quem ama a todos.
É por isso que — como notou Karl Ranher — «quem escolhe, escolhe a Cruz».
É nela que se encontra a maior «escola de amor». Com muitas dores e lágrimas à nossa espera. Mas com uma sabedoria ímpar. E uma beleza sem par!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira