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Cristo Rei, o rei que ama e sabe perdoar

Está próxima a Solenidade de Cristo Rei. Quem é rei deve sê-lo por algum motivo razoável. E a verdade é que entre os muitíssimos monarcas que existiram no nosso planeta, quantos o não foram por imposição unilateral da sua força e da sua vontade. Nem falemos já dos que se apropriaram dum reino indevidamente e o governaram de modo execrável, sugando os súbditos até ao desfalecimento, sem qualquer preocupação de justiça e de equidade.

E Cristo? Porque razão é Rei? Está no seu direito ou o seu poder é fruto de uma arbitrariedade inconfessável? Nós, cristãos, sentimo-nos perfeitamente sossegados. Nada há de aleatório ou menos recomendável na sua condição de soberano. Antes pelo contrário.

Cristo é Rei, porque, enquanto Deus, é o criador de tudo o que existe. Por outras palavras, a sua perfeição absoluta, que reflecte um poder omnipotente, deu origem a todas as criaturas. E porque são fruto do querer divino, espelham a própria perfeição do seu autor, em maior ou menor grau, consoante o que Deus delas pretende.

Entre as criaturas terrestres, a mais perfeita é o homem porque, ao ser criado à imagem e semelhança de Deus, foi dotado com uma inteligência que lhe permite conhecer, compreender e explicar a realidade, tanto quanto o seu discernimento lho permite. E Deus dotou-o ainda com uma vontade própria, que lhe dá a possibilidade de auto-determinar-se a fazer aquilo que entende. Ou seja, com liberdade.

Esta liberdade permite-lhe querer o que Deus quer ou não obedecer às sugestões que Ele lhe fornece. Deve ter em conta, porém, que o que Deus quer e lhe pede para fazer é sempre o melhor para ele, visto que, por ser perfeito, Deus nunca o conduz para aquilo que o possa prejudicar.

Ou seja, Deus apenas quer o seu bem e nunca o seu mal, pelo que ao propor-lhe determinado caminho a seguir é sempre um caminho de felicidade adequada à sua perfeição e às suas possibilidades. Deus não pede impossíveis ao homem, porque seria absolutamente injusto e estaria em desacordo com a sua perfeição. Já S. Paulo dizia: “Ninguém é tentado acima das suas próprias forças…(1 Cor 10, 13)”.

Tudo isto nos leva a considerar que o Rei Cristo é o soberano que mais respeita a liberdade do homem e Quem mais deseja o seu bem. É um rei cujo poder é perfeito e só tem em conta a felicidade autêntica dos seus súbditos. E sabe que o verdadeiro objectivo que o homem deve desejar é o fim para que Ele o criou, ou seja, para gozar da felicidade compartilhada conSigo mesmo por toda a eternidade.

Eis a razão pela qual tanto Se esforça por acompanhar cada um de nós no seu caminho terreno, indicando-nos constantemente o que é ou não conveniente. Não nos força, mas convida-nos, porque sabe que somos capazes de aderir voluntariamente às suas sugestões. Cristo é, assim, o rei mais respeitador da consciência dos seus súbditos. Não obriga, só estimula a seguir o que Ele propõe. E não esqueçamos: o que Ele propõe é sempre o melhor.

É também o Rei que com mais vigor é capaz de perdoar os desvarios e as fraquezas de quem está submetido ao seu poder. Não se contenta com um perdão esporádico e frio, porque todo ele está fundamentado numa afeição incontornável que O une a cada um de nós. Não foi assim que o pai do filho rebelde – o filho pródigo da parábola – procedeu no seu regresso? Ao recuperá-lo, só soube perdoar e festejar.

Cristo, o nosso Rei, já havia esclarecido de forma convincente: “Há mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de penitência...(Lc 15, 7)” Ou não fosse o Reino de Cristo o reino do perdão, e Ele mesmo Quem perdoa com júbilo até setenta vezes sete…

Por fim, mostrou-nos, com a sua Paixão e Morte na Cruz, a amplitude do seu Amor. Deu a sua vida e assim cumpriu à letra aquilo que havia dito: “Não há maior prova de amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15,13)”. Cristo é, por isso e também, o Rei do verdadeiro e mais sublime Amor.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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26 novembro 2017