1. Todos os domingos, pelo menos, ao proclamarmos na Missa o Símbolo dos Apóstolos, afirmamos crer na Igreja Una.
Por vontade de Jesus deveria haver uma só Igreja. No entanto, muitos dos que se afirmam seus discípulos formaram ao longo dos séculos diversas igrejas e dentro da mesma igreja, a unidade, por vezes, também não existe. Há caprichos, vaidades, teimosias, ânsias de protagonismo, interesses que inviabilizam a vontade de Jesus.
2. A unidade foi um dos temas da oração sacerdotal, em Quinta-Feira Santa: «Pai santo, guarda-os em ti, para serem um só, como nós somos»(João 17, 11).
«Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só»(João 17, 20-21).
«Há um só Corpo e um só Espírito; um só Senhor, uma só Fé, um só batismo, diz S. Paulo(Efésios 4, 5-6).
3. Na Igreja todos respeitam a mesma autoridade legitimamente constituída. Autoridade que não vem do povo mas é transmitida por sucessão apostólica. Reside no Papa e nos bispos que estão em comunhão com ele (Cânones 332 e 336).
Todos respeitam e defendem os mesmos princípios doutrinais. Não depende da vontade de cada um, por exemplo, a alteração da natureza do matrimónio.
Todos observam as mesas normas disciplinares; celebram o mesmo culto. Não há, por exemplo, lugar para o vedetismo, devendo cada sacerdote celebrar a Missa de harmonia com o que está superiormente estabelecido.
A unidade da Igreja é incompatível com a existência de «capelinhas» onde cada um doutrina e age como quer e lhe apetece.
4. A unidade na Igreja não é sinónimo de uniformidade. Assim começou na escolha dos Doze Apóstolos(Mateus 10, 1-4), em cujo grupo havia pessoas de diversas proveniências e com diferentes mentalidades. A Santíssima Trindade é comunidade de pessoas iguais e distintas.
Nem tudo, na Igreja, é dogma de fé. Há que construir a unidade no respeito pela legítima diversidade.
Na 34.ª viagem apostólica (em 13 de setembro, em Bratislava) o Papa Francisco defendeu a criatividade na Igreja, recordando o exemplo dos santos Cirilo e Metódio.
5. É um erro, a pretexto de defender a unidade, querer impor a uniformidade. No mesmo corpo de Cristo que é a Igreja há diversidade de dons e de carismas, mas todos procedem do mesmo Espírito e todos têm por finalidade o bem do todo. Não há como refletir sobre os capítulos 12 e 14 da 1.ª Carta aos Coríntios.
Tanto se pode ser bom discípulo de Cristo usando barbas ou cara rapada; vestindo saia ou calças; pertencendo a este ou àquele movimento ou congregação.
Há na Igreja liberdade de associação. Quem dirige tem o dever de prestar atenção a todos, resistindo à tentação de privilegiar os seus.
6. O respeito pela legítima diversidade não permite que se apresente como essencial o que é acidental; como obrigatório o que é de livre escolha; que alguém imponha aos outros as suas devoçõezinhas, as suas opções pessoais ou as suas manias.
O respeito pela legítima diversidade não significa que uns sejam mais que os outros. São diferentes. Exercem diferentes ministérios. Na mesma mão todos os dedos são diferentes, mas todos são dedos.
7. A unidade no respeito pela legítima diversidade constrói-se com o amor, o sinal por que se conhece quem é ou não discípulo de Jesus. «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros»(João 13, 34-35).
O amor não se reduz a uma palavra bonita mas deve traduzir-se em gestos concretos de cuidado para com as pessoas – a Igreja são as pessoas; as coisas existem para as servir – com particular atenção para com os mais dependentes: doentes, crianças, idosos.
Autor: Silva Araújo
Creio na Igreja una
DM
30 setembro 2021