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Costas largas da pandemia

1. A pandemia originada pelo Coronavírus foi e é uma realidade. Uma realidade que continua a merecer a atenção de todos nós. Cuidados como uso de máscara, a higienização e desinfeção, o distanciamento social continuam a ser de praticar.

Que cada um cuide de si, não por egoísmo, mas para não ser causa de mal para os outros.

2. A pandemia acelerou a morte de milhões de pessoas. É verdade que todos vamos morrer. Mas se não for já, se for noutras circunstâncias, se não provocar grande sofrimento a familiares e amigos que de nós se queiram despedir com um gesto de carinho, melhor.

Pôs a nu males escondidos a que urge pôr termo. A situação de trabalhadores estrangeiros em Odemira e as condições vividas por muitos idosos não são casos únicos. Há que estar muito atento às pessoas e saber denunciar comportamentos desumanos.

Mostrou a necessidade de se investir, a sério, no setor da saúde: nas instalações, no equipamento, nos recursos humanos.

Mostrou o erro que tem sido formar profissionais forçados a emigrar. Porque não têm os meios necessários, porque não são devidamente remunerados, porque se não podem dedicar aos doentes com a disponibilidade aconselhável.

3. Também é verdade que a pandemia estimulou o trabalho de cientistas que, em tempo recorde, descobriram vacinas que vêm dar certa tranquilidade e motivos de esperança.

Mas alertou para a necessidade de a indústria farmacêutica se preocupar mais com o serviço às pessoas do que com a rentabilidade do que produz. Para a necessidade de as descobertas científicas servirem o bem comum e não o egoísmo dos endinheirados. Acredito que não seja fácil, mas a vantagem está em fazer o que é difícil.

Produziu gestos de solidariedade que são de enaltecer e inexcedíveis dedicações de muitos profissionais que a sociedade nem sempre reconheceu.

4. Muita coisa mudou com a pandemia. Há mudanças que são para ficar mas outras devem ser tratadas como medidas transitórias. Fala-se no regresso à normalidade mas há circunstâncias em que é um erro voltar ao antigo e a normalidade deve ser outra.

A realidade da pandemia exigiu restrições perfeitamente justificáveis em tempos duros de confinamento. Aliviada a situação não me parece bem que algumas dessas medidas permaneçam. A não ser por comodismo ou por interesse de quem as decretou.

Há medidas ocasionais que não devem ser transformadas em costume, o que me parece estar a acontecer.

5. Primeiro estão as pessoas, diz-se. O dinheiro existe para dar às pessoas melhores condições de vida. Há despesas que, nos tempos de hoje, devem ser consideradas inevitáveis. Já repararam que hoje ser pobre também é não ter um computador em casa? Os meninos das famílias que o não têm como podem participar nas aulas online? Onde está o acesso universal à educação?

6. Rotulei esta reflexão de costas largas da pandemia. É verdade. Há quem, a pretexto da pandemia, pretenda levar a água ao seu moinho, esquecendo-se das pessoas que devem ser cada vez melhor servidas. Há quem, a pretexto da pandemia, só pense em reduzir custos, pondo de lado o serviço às pessoas. Como se a pandemia fosse motivo para a prática do egoísmo e da forretice.

A pandemia não deve justificar a prepotência, a arrogância, o desprezo pelos outros.

Não deve dar cobertura a que se atue segundo critérios puramente economicistas, muito longe da sociedade personalista e humanista que todos desejamos ver implantada.

Não deve ser invocada para justificar atos ditatoriais. Para adiar encontros e conversas que só por comodismo ou falta de coragem se não realizam.

Não deve ser motivo para impor sacrifícios desnecessários a que se não sujeita quem os impõe.

Há comportamentos e decisões cujas culpas não devem ser atribuídas à pandemia. Só por mania ou interesseira idiotice.


Autor: Silva Araújo
DM

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13 maio 2021