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Consumar e não (apenas) consumir

Consumir é uma necessidade e também um benefício. Não vivemos sem consumir. E a economia não sobrevive sem que os cidadãos consumam.

O consumo faz circular bens e serviços, essenciais para a subsistência das pessoas e para a prosperidade dos povos.

O problema é quando o consumo é erigido em prioridade, convertendo-se numa obstinação e – nalguns casos – numa neurose.

Sobretudo em épocas como esta, há quem não se controle. Há quem se endivide desmesuradamente. E não falta até quem «rebente» orçamentos futuros com o afã de desfrutar o máximo no presente.

Enfim, mais um indicador de como a moderação parece estar a fugir das nossas mãos.

Tornámo-nos seres excessivos, incapazes de nos conter na sofreguidão de tudo ter.

Acresce que nem sequer mostramos capacidade de esperar. Qualquer coisa que a mente nos venha lembrar, o impulso é logo para a comprar.

E é assim que «encharcamos» as pessoas de coisas. Já que não temos tempo para lhes dar, pelo menos prendas não lhes hão-de faltar.

Conseguimos, deste modo, arrancar efémeros sorrisos aos destinatários. Só que depressa regressam as lágrimas em corações vários.

Acrescem os contrastes destas alturas. É tanto o que se consome e são tantos os que morrem de fome!

Chegados à véspera do Natal, para muitos é apenas hora de consumir. Melhor seria que esta fosse sobretudo a hora de consumar.

Esta devia ser a hora de consumar a preparação para a vivência do mistério da Encarnação. Há coisa mais bela neste mundo do que olhar para um mistério tão profundo?

É tão comovente sentir Deus à nossa frente. E como ao contentamento não dar voz por O termos no meio de nós?

Reunamos a família, abracemos os amigos, toquemos a repique os «sinos digitais». E falemos de Jesus que — depois de vir — não nos deixou mais.

Inundemos de alegria a noite fria. Mas será uma noite santa, se aquecida pela Eucaristia.

A Missa da Noite dá um encanto especial à celebração do Natal.

Que a paz do Menino que vamos beijar remova todos os ódios que possamos alojar.

Como recorda o Papa Francisco, o presépio é um «admirável sinal» que não se esgota no Natal.

Que, ao longo da nossa vida, não esqueçamos a lição deste «Evangelho vivo».

E que aprendamos com aquela demasia de ternura — e simplicidade — a semear paz em toda a humanidade!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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24 dezembro 2019