twitter

Confrontando realidades!

A greve consumada na Autoeuropa, a greve dos enfermeiros em curso, as ameaças dos médicos e dos magistrados, a par de muitos outros sinais causadores de instabilidade e de insegurança, são incidentes desmesurados para ajuizarmos com verdade que continuamos a caminhar sem alvoroços.

Não faltam razões para fundamentar esta apreciação.

Pelo que veio a público, a recente paralisação da fábrica da Volkswagen deveu-se essencialmente à recusa de parte dos trabalhadores de laborarem ao sábado. Houve uma adesão inferior a 50% e teve na sua génese a luta de poder entre sindicatos afetos aos partidos da extrema-esquerda. A greve dos enfermeiros resulta em grande medida da destruição das anteriores carreiras daquela classe profissional, perpetradas pelos sindicatos que então as negociaram e onde pontuava o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses integrado na CGTP-Intersindical. 

Independentemente da apreciação das motivações daquelas greves e da justeza das reivindicações, a quem, neste momento, interessará mais mostrar a sua força e alargar o seu poder negocial para o orçamento do próximo ano? Não poderá o partido do Governo ficar refém da sua própria estratégia?

Governo que tem sabido gerir com mestria e grande habilidade política o crescimento trazido basicamente pelo turismo e pelas exportações e que, sempre que possível, tem feito uma navegação com terra à vista, para evitar mares mais alterosos.

Esta é uma perspetiva de quem olha estes acontecimentos com apreensão, pelas consequências que podem trazer para o nosso futuro coletivo. 

A par da hipotética deslocalização da fábrica da Autoeuropa que faria regressar a fome e a pobreza à península de Setúbal, a perpetuação da greve dos enfermeiros, só por si, será uma machadada violenta nos esforços efetuados para fazer aumentar a natalidade, tão necessária para melhorar a demografia portuguesa.

Esperemos que o bom senso prevaleça e que no fim todos os portugueses fiquem a ganhar.

Para nos inquietar, basta o que nos vai chegando de outras paragens!

Se pensarmos que decorridos 16 anos sobre os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, perpetrados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda, de que foram alvo os Estados Unidos, que desde então o Mundo ainda não encontrou o caminho da tranquilidade e da paz, ficaremos ainda mais apreensivos. Para agravar esta apreensão, assistimos hoje a uma escalada de conflitos que, se até agora parecem circunscritos, rapidamente podem fazer mergulhar toda a Humanidade numa catástrofe de consequências imprevisíveis.

O choque em crescendo entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, o conflito latente entre o Paquistão e a Índia, a situação na Ucrânia, no Médio Oriente, ou na região dos Balcãs são apenas alguns exemplos que ilustram bem quanto o Planeta permanece ameaçado. Se a tudo isto juntarmos o fenómeno do terrorismo endémico, a tragédia dos milhões de seres humanos deslocados, a pobreza extrema que grassa um pouco por toda a África, ou os efeitos devastadores dos fenómenos naturais, cada vez mais violentos e genericamente atribuídos às alterações climáticas, ficaremos, no mínimo, muito receosos e até bastante deprimidos.

No entanto, porque a vida não para e precisamos de manter a esperança, lembremos as palavras de Fernando Pessoa que há 100 anos escreveu no seu poema Ultimatum “…E o mundo quer a inteligência nova, sensibilidade nova. O mundo tem sede de que se crie, tem fome de Futuro!...”


Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira
DM

DM

12 setembro 2017