O director desta Faculdade comunicou ao orador que a sua decisão de cancelar se devia a razões de segurança. Tanto assim que, mais tarde, diz o próprio Jaime Nogueira Pinto, segundo anota o OBSERVADOR, “a direcção teria o maior interesse” em convidá-lo “para falar sobre o tema na faculdade, num contexto menos político e mais académico”.
Independentemente da decisão da chefia daquele centro de ensino, não pode deixar de lamentar-se que no ambiente universitário haja uma crispação tão forte e intolerante, que provoque situações contra a liberdade de expressão, que é consagrada na nossa Constituição e um fundamento óbvio da sociedade democrática.
Que haja um grupo de alunos, profundamente minoritário (a comunicação social fala de uma trintena aproximadamente), que seja capaz de promover o cancelamento da conferência, argumentando que, no seu entender, “este evento está associado a argumentos colonialistas, racistas, xenófobos que entram em colisão com o programa para o qual a AEFCSH foi eleita, além de entrar em colisão com a mais básica democraticidade e inclusividade”. Em primeiro lugar, cabia à Associação de Estudantes comprovar que tinha razão em tudo o que afirmava sobre o teor da temática do referido evento.
Não bastam palavras retumbantes, são necessários factos concretos, objectivos e comprováveis. O que significa “inclusividade”? Eis um termo confuso, que o autor destas linhas não conseguiu encontrar em três bons dicionários da língua portuguesa. Da forma como procedeu, a AEFCSH, tornando-se senhora discricionária da verdade sobre o que, ao fim e ao cabo, não queria ver tratado no interior da sua Faculdade, que é paga com a contribuição de todos os cidadãos portugueses, manifestou uma atitude ditatorial. Isto não lhe importa? Ou é bom que haja ditaduras, quando alguém ou um grupo de cidadãos pensa, com todo o direito que a nossa Constituição lhes confere, dum modo diferente das opiniões dogmáticas dos mentores da referida Associação? Insistimos: a direcção da Associação poderia garantir com absoluta certeza que iriam ser expostos argumentos “colonialistas, racistas, xenófobos”, etc.? Ou era apenas uma mera impressão que a incomodava?
Enfim, tudo isto é lamentável e constitui uma atitude insultuosa para com a democracia portuguesa. Parabéns, por isso, à Associação 25 de Abril pela atitude tomada, ao convidar Jaime Nogueira Pinto para ir lá fazer aquilo que mais ou menos trinta alunos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa não quiseram permitir. É caso para se perguntar: “Foi para isto que se fez o 25 de Abril”?
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva