Conforme prometido no último artigo sobre Karen Horney, vamos resumidamente apresentar algumas das formas mais frequentes de comportamentos de compensação. Não se trata de nenhum receituário de comportamentos do tipo signos do zodíaco, mas de reacções pessoais frequentes que inconscientemente traduzem sentimentos de compensação em relação a vivências passadas.
E, porque são inconscientes, precisam da ajuda de alguém com preparação técnica para os ajudar a tomar consciência delas e da forma como a elas continuam a reagir, apesar de já passadas. Isto mostra-nos como é delicado e complicado o xadrez do equilíbrio da nossa mente.
1. Necessidade de afecto e de aprovação. As pessoas com esta necessidade inconsciente de afecto e aprovação manifestam, em terem consciência disso, um desejo exagerado de agradar aos outros e de viver de acordo com o que eles esperam de si, como se tivessem perdido a sua autonomia interior. São inseguros e precisam de sentir o afecto dos outros.
É óbvio que todos precisamos do afecto e da compreensão dos outros, mas há pessoas que são quase dependentes desse afecto. É aí que está a diferença. Vivem quase em função da opinião favorável dos outros e, por isso, são muito sensíveis a qualquer indício de rejeição ou de falta de amizade.
Facilmente se melindram e perdem o controlo do seu equilíbrio afectivo quando se sentem rejeitados ou mais inseguros. Nas mulheres, esta dependência pode-se manifestar em relação à moda, porque sentem que, seguindo-a, os outros as admiram e gostam mais.
2. Necessidade de um parceiro de quem possam depender. São pessoas inseguras que têm muito medo de ser abandonadas, de ser deixadas sós; por isso, valorizam muito as amizades e agarram-se a elas para se sentirem protegidas. Não é só com crianças que acontece darem presentes para terem amigos. Esta necessidade representa o sentimento de abandono que podem ter experimentado em crianças e que precisam agora automaticamente de evitar, porque lhes foi muito doloroso suportá-lo; por isso as procuram evitar.
Quando ela acontece com uma das pessoas do casal, pode afectar o equilíbrio e a estabilidade do relacionamento. Isto deve-nos fazer pensar nas consequências do modo de relacionamento da mãe (e do pai) com os filhos, sobretudo durante os primeiros anos, porque vai marcá-los para a vida.
3. Necessidade de restringir o número de pessoas com quem se dá. São pessoas que gostam de passar anónimas, que valorizam acima de tudo a “modéstia” (não a modéstia em sentido de virtude, mas a modéstia no sentido de retraimento pessoal defensivo), porque sentem a presença dos outros como invasores da sua personalidade e da sua presença. Não são pessoas de fazer exigências; preferem ficar quietas no seu canto.
4. Necessidade neurótica de poder. São pessoas que manifestam um forte desejo de poder, que procuram glorificar-se, que acreditam na omnipotência da sua vontade. São fáceis de identificar, porque dão nas vistas nos cargos que ocupam, não apenas políticos, mas também noutros cargos de dimensão social.
Têm do poder uma concepção de dominação, não de serviço. Eles é que sabem e que mandam… Têm muita dificuldade em ver-se ao espelho da consciência crítica. Nunca têm culpa de nada, a culpa é sempre dos outros…porque, no dia em que a assumissem, perdiam a sua convicção de poder sobre os outros.
5. Necessidade neurótica de explorar os outros. É uma realidade que existe demasiado na sociedade: pessoas que se não contentam só com o que é seu... Se puderem, é tudo deles. São gananciosos. É a forma de se sentirem compensados da sua frustração.
6. Necessidade neurótica de prestígio. São pessoas muito convencidas do seu valor. A sua necessidade de afirmação social leva-os a imaginar que são os melhores. Para se diferenciarem dos outros, alguns usam, por exemplo em política, expressões bizarras que mais ninguém usa. Caracterizam-se pelo desejo de serem considerados como pensam que são.
E valorizam mais o que os outros lhe dizem do que o conhecimento real que têm dos seus méritos. Se alguém lhe diz que merecem uma estátua, ficam logo convencidos que são mesmo heróis e que é um acto de justiça fazê-lo. Têm dificuldade de entender a humildade. Esta necessidade neurótica de prestígio pode surgir associada á necessidade de poder.
7. Ambição de realização pessoal. São pessoas que gostam de dar nas vistas, de fazer obras de fachada mesmo que desnecessárias e, nos cargos públicos, consomem o dinheiro dos impostos do povo só para se reverem nelas. Passam a vida a inaugurar coisas.
Muitas vezes, inauguram a mesma coisa duas e três vezes…E deixam placas com o seu nome em tudo quanto inauguram. Procuram realizar coisas que dêem nas vistas para compensar a sua insegurança básica.
8. Necessidade neurótica de auto-suficiência. São pessoas que se isolam demasiado, que se tornam solitárias, que desvalorizam as relações sociais com receio de fracassarem nas relações com os outros. Não é por modéstia, mas por receio de não serem correspondidos. Sentem-se mal-amados, carenciados de amor e de atenção.
9. Necessidade neurótica de perfeição. São pessoas que consideram que nunca se enganam, porque têm medo de serem criticados se cometerem erros. Se isso acontecesse, iam sentir-se diminuídos, pois perderiam, a seus olhos, a razão de ser da luta da sua vida pela qual sacrificaram tudo. Trata-se de uma necessidade neurótica de perfeição que os compele a fazer isso para se sentirem bem consigo mesmos.
(Nota: o autor não escreve de acordo com o chamado Acordo Ortográfico)Autor: M. Ribeiro Fernandes