2 – Uma lição para os tempos actuais). As longas e encarniçadas guerras que tiveram lugar no que é hoje Portugal e Espanha (quando o então nascente Império italiano de Roma decidiu conquistar os vastos territórios da nossa nativa Ibéria), são a prova histórica de quão preciosa é a independência dos povos. E de quão custosa se torna, com frequência, a manutenção dessa independência, seja em vidas humanas, seja em sacrifícios, perdas e trabalhos.
Resultando, em caso de derrota, a perda do governo do território, a colonização maciça por estrangeiros, a substituição violenta da nossa língua, cultura e religião pela dos invasores, o aniquilamento impiedoso das últimas bolsas de resistentes (quantas vezes formadas por gente que só acordou para a nova realidade depois de esta ter acontecido).
3 – Nós, portugueses, quem somos, na realidade?). A questão não se põe quanto ao facto de, tal como muitas outras nações (mesmo europeias), não deixarmos de ter contribuições genéticas de vários povos, em vez de resultarmos de um só filão "homogéneo" (o que será o caso dos suecos, dinamarqueses, chineses, congoleses, sudaneses do sul, etc.). É consabido que em boa parte dos portugueses corre também algum sangue alemão (de suevos e visigodos); algum sangue mouro (de Marrocos); algum sangue judeu (sobretudo em certas regiões fronteiriças, depois de 1492); às vezes até, algum raro sangue negro, resultante de regressos do Brasil ou da África.
Porém, a questão fundamental é se nós, os portugueses e espanhóis, somos realmente uma básica mistura, mais que comprovada, de Iberos (nativos) e de Celtas. Ou se, a conquista romana não terá acabado por introduzir uma tal quantidade de sangue italiano entre nós, que este, em certas regiões, se não terá tornado quase paritário com o de celtas e de iberos. Alguns historiadores dizem que tal será talvez o caso, ao menos a sul do Tejo. Só que, esse cenário genético foi bastante alterado pela duradoura conquista marroquina (moura) de 711 a 1250; à qual se seguiu uma fuga para norte de parte da população luso-godo-romana.
Contudo, a lenta Reconquista (entre 750 e 1492) permitirá a expulsão da grande maioria dos mouros e o repovoamento (em Portugal, das Beiras, Alentejo e Algarve) por descendentes dos luso-godo-romanos que haviam fugido. Na fase final, nota-se o apuramento desta tendência, fruto do bom trabalho das ordens religioso-militares. Contudo, houve sempre uma boa parte da população luso-romana que não saiu das aldeias e cidades onde vivia, ao longo dos vários séculos de domínio islâmico. Por último, note-se que, desde o tempo dos romanos havia um "Portugal a norte do Douro", a Calécia (de "Cale", hoje Gaia); e um "Portugal a sul do Douro" a Lusitânia (que na altura incluia as províncias actuais de Salamanca, Cáceres, Badajoz e outras).
4 – Nós não falamos a língua dos nossos antepassados). Fruto da conquista romana, a língua do Lácio, o latim (que era apenas uma entre muitas línguas que se falavam na Itália nos séculos anteriores), tornou-se língua militar, comercial, administrativa (e depois religiosa) na Ibéria. E aos poucos, foi sendo imposta aos povos conquistados, substituindo as línguas localmente faladas, de raiz céltica ou ibérica.
Apenas com a excepção das sempre ibéricas Vascongadas (e até hoje!). E o mesmo se passou noutras partes do Império: tal como o italiano moderno (e os seus cerrados dialectos), também o português, castelhano, galego, catalão, provençal, francês, reto-romanche, romeno e o "cabo-verdiano", nada mais são que formas modernas e alteradas de um dialecto da Itália antiga...
5 – No próximo trabalho narrarei a longa luta entre Romanos e Lusitanos). Feita esta introdução, sobre a importância que têm as fronteiras como forma de auto-defesa das nações (sobretudo das mais fracas), tentarei resumir as encarniçadas guerras pelas quais Roma conseguiu vencer, nos sécs. II e I a. C., as bravíssimas tribos pastoris da celtibérica Lusitânia. E adoptarei por guia, o clássico de JORGE de ALARCÃO, "O domínio romano em Portugal".
Autor: Eduardo Tomás Alves