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Como implicar mais as crianças na primeira comunhão?

Desabafava um sacerdote espanhol que estava farto de «casar pagãos, baptizar filhos de pagãos e enterrar pagãos». Por isso se sentia frustrado com o trabalho na paróquia. Li uma notícia em que o bispo de Calahorra e La Calzada-Logroño, região de La Rioja, na vizinha Espanha, há já dez anos que escreve uma carta aos que vão fazer a primeira comunhão. Na deste ano, explicava-lhes como a prenda melhor que iam receber na sua vida seria o Pão da Eucaristia «que te alimentará e te dará força para seres um bom cristão e uma grande pessoa». Recordava-lhes ainda que «A amizade com Jesus exige que cuides dela, como fazes com o teu grupo de amigos: indo à sua Casa (a Igreja); celebrando festas juntos (a Missa do Domingo) e falando com Ele para lhe contares as tuas coisas ( a oração)». Na carta deste ano, pedia-lhes mais uma coisa: que lhe respondessem à carta que lhes dirigia: «quando estiveres no teu quarto, dedica algum tempo a recordar tudo o que aprendeste na catequese sobre quem é Jesus, e escreve-me uma carta com as parábolas, milagres ou ensinamentos do Evangelho que tenham ficado gravados no teu coração. Lerei a carta com muito interesse e rezarei por ti e pela tua família». O pedido foi correspondido. Mais de 300 jovens escreveram ao seu bispo. Alguns aproveitaram a visita pastoral para lhe entregarem a carta em mão. Uma das cartas dizia: «Querido bispo: Chamo-me Ángel e no dia 12 de Maio vou fazer a minha Primeira Comunhão. Nestes dois anos de catequese, preparei-me para receber a comunhão com muito entusiasmo. Aprendi como Jesus perdoava às pessoas injustas. Aprendi a rezar o Pai Nosso, a ser melhor pessoa para compreender outros que não são tão afortunados como eu». Uma menina contava-lhe que, no colégio onde estuda, são poucos os meninos e meninas que fazem a primeira comunhão. «Até se riam dos meninos e meninas que frequentam a aula de Religião. Mas a mim pouco me importa o que eles dizem, porque não vão sentir a emoção que eu sinto ao poder receber Jesus pela primeira vez. Só de o pensar, até fico nervosa». Acrescentava esta menina de 9 anos: «Causa-me muita ilusão vestir um vestido tão bonito. Mas aborrece-me que as pessoas pensem que só faço a Primeira Comunhão por causa do vestido». Não, a razão está em que esse vestido assinala quão importante é esse dia para ela, pois a catequese ajudou-a a compreender quão importante é Deus na sua vida, «porque sempre me acompanha e me ajuda na minha vida». Dom Carlos Escribano, o bispo, quer responder às cartas das criança e promete reunir-se pessoalmente com elas quando visitar as suas paróquias. Nessa cartas às crianças, pede-lhes também que pensem noutras crianças que não têm quase nada para viver. Neste ano, concretamente, pedia-lhes para, com o seu contributo, ajudarem uma religiosa natural da diocese e que trabalha num orfanato na República Democrática do Congo, onde faz de mãe de mais de 20 crianças. Diz-lhes ainda: «com o teu donativo, vais poder ajudar estas crianças africanas, que vivem num país com muita guerra, para que possam receber o alimento necessário para crescerem saudáveis, e pagar os gastos com a escola». No ano 2017, já enviaram 20.700 euros. Nos 9 anos já passados em que o bispo lhes escreveu a carta, já juntaram um total de 110.000 euros que serviram para ajudar 5 missionários oriundos da Diocese e que trabalham em distintas partes do mundo. Parecendo simples, esta carta do bispo está a levar as crianças a saírem para fora dos seus esquemas, sentindo dor com os que mais sofrem. Porque no sentir dor com os que sentem dor é que reside a quinta essência do cristianismo. Ser missionário é isso mesmo: esquecer-se de si, descobrir o outro que sofre, absorver a dor e transformá-la em amor, serviço, esperança e sorriso. Onde há concentração de sofrimento, o coração missionário transforma-se nos braços da misericórdia de Deus, e dá-lhe olhos, braços, pernas, coração e inteligência. E nem é preciso ir a África para descobrir o sofrimento e ser missionário. Quanto sofrimento invisível e silencioso, ao nosso lado! O importante é fazermo-nos próximos de quem sofre, sentir com ele, darmo-nos, absorver a dor e transformá-la em alegria. Até porque a alegria mais profunda de cada um de nós está precisamente em ajudar o próximo a estar alegre. O desafio lançado nas cartas deste bispo é uma óptima catequese para que Primeira Comunhão não seja apenas um rito sociológico, mas ajude a despertar para o essencial da vida cristã.
Autor: Carlos Nuno Vaz
DM

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7 julho 2018