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“Como explico?”

O Coronavírus, difundido a partir da Ásia parece andar a afetar a cachimónia de muito boa gentinha e até a dos próprios asiáticos a viverem em Portugal. E porquê? Perguntar-me-ão. Porque depois de ter lido um artigo de opinião, no DN, em finais do ano passado, da autoria de um diplomata chinês em Portugal, ando a tentar ver se alguém me elucida como é que, segundo ele, aquele país comunista vive em democracia? Talvez tenha sorte, uma vez que não faltam, no nosso país, políticos que também o achem, sobretudo os afetos à esquerda radical. É que, sinceramente, achei todo daquele texto uma espécie de ‘ode’ àquele regime.

O título do artigo em questão, era o seguinte: – “Defender a democracia popular de todo o processo. Promover juntos o progresso da civilização política humana”. Passando em revista o sucesso, segundo ele, da 6.ª sessão plenária do Partido Comunista da China (PCC) realizado de 8 a 11 de novembro de 2021, em Beijing, e onde a resolução do Comité Central versou as grandes conquistas e experiências históricas na luta centenária do Partido, dizendo: – “continua a persistir na nova era o desenvolvimento da democracia popular, a fim de garantir o estatuto do povo como dono do país”.

Ora, como dizia o meu professor da Primária, Gustavo Silvério, que Deus lá tem: – “aí é que a porca torce o rabo”. E porquê? É que a tal democracia popular e todo aquele território como pertença do povo, segundo me parece, não combinam com a ditadura sob as ordens de Xi Jinping, este sim, o seu verdadeiro proprietário. Contudo, o adido asiático insistia: – “o presidente foi o ‘génio’ que teve a proposição magna de traçar, naquele plenário, um resumo com as bases da construção socialista chinesa rumo ao futuro”.

Vir dizer isto e muitas mais atoardas – de um país em que nada transparece cá para fora e os que o fizerem já sabem o que lhes acontece – é no mínimo displicente. E foi-o mais, ainda, ao vir reforçá-las: — “a democracia popular tem a sua raiz na ideologia tradicional chinesa baseada no povo”. Mas, afinal, qual será o conceito de democracia deste senhor? Se calhar até dirá – tal como o nosso ‘Bloco de Esquerda’ – que o norte coreano, Kim Jong-un, também é um social-democrata e que lá, aquilo, é uma democracia. Toda a gente, de bom senso, saberá que é pura mentira!

E mais afirmou: – “Mêncio, filósofo chinês, que há dois mil anos criou a teoria segundo a qual o povo deve ser o elemento mais importante para um país, a seguir o estado, e o monarca deve ser o menos relevante”. Aí, menos esclarecido fiquei. Mas mais baralhado me vi, quando afirmou: – “o PCC elege a busca da felicidade para o povo, como aspiração máxima”. Qual delas? A da lei da rolha e da ausência de partidos políticos? A da proibição de manifestações na Praça Tiananmen, como em outras? A da interdição a sindicatos e greves? A da falta de Comunicação Social, reunião e associação e confissões religiosas, livres?

Dizia ele: – “na China a participação do povo no ato de votar é uma realidade”. Mas eu, pelo menos, desconheço que lá haja campanhas eleitorais e eleições democráticas, tal como são as da Europa ocidental, América, etc. E desgraçado daquele que se atreva a afrontar o PCC, única força política que de lá conheço. E mais acrescentou: “existe uma avaliação na democracia popular que para além de verificar se o povo teve direito a ampla participação, saber se as promessas orais serão cumpridas e se os poderes são supervisionados e controlados pelo povo”.

Já para encerrar o cardápio de loas, lá redigiu mais estas: — “tomaram as democracias ocidentais ter um nível de apoio cívico como na China. A democracia não é como a ‘coca-cola’, que tem o mesmo sabor em todo o mundo. Foi durante este regime que a China mais cresceu”. É Curioso! Mas não foi por altura da ditadura do Estado Novo que – embora de bico calado e sem grandes ondas – o nosso país mais cresceu? Ou como diria o ‘chinesinho limpopó’, do saudoso Badaró: – “como expilico?”.


Autor: Narciso Mendes
DM

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10 janeiro 2022