Volvidas duas décadas sobre o 11 de Setembro, parece que o mundo ainda não conseguiu «parar» para reflectir: sobre o que aconteceu nesse dia e sobre o que se desencadeou a partir desse dia.
Aliás, dá a impressão de que a nossa acção não passa de agitação. E – como sucede com toda a agitação segundo D. António Ferreira Gomes – trata-se de uma «agitação paralisante», geminada com uma «paralisação agitante».
Sentimo-nos brutalmente inseguros a 11 de Setembro de 2001. Mas estaremos mais seguros com as reacções ao 11 de Setembro de 2001?
Foram-nos subtraídos alguns direitos em nome da segurança. Salta, porém, à vista que continuamos a perder direitos sem ganhar mais segurança.
O 11 de Setembro como que inaugurou a era do terror em grande escala, de proveniência incerta e de irrupção súbita.
Mas a resposta não amorteceu a violência e até exponenciou o número das suas vítimas.
O «magnicídio» de há vinte anos como que alongou os atalhos para um «humanicídio» sem tréguas.
Dir-se-ia que o problema continua a «problematizar» e a solução não logra «solucionar»
Será que fazemos justiça às vítimas do 11 de Setembro com as vítimas do que se seguiu ao 11 de Setembro?
É que, nos dois casos, é inocente a quase totalidade das vidas eliminadas.
Os campos estão cada vez mais afastados. O diálogo praticamente não existe ou, quando existe, não é minimamente consequente.
Como é possível celebrar acordos que, repetidamente, não se cumprem?
Acresce que, hoje em dia, nenhuma situação é local sem que se torne também global.
Por muito longínquo que pareça o epicentro de um problema, os seus «estilhaços» podem «explodir» em qualquer território, inclusive à nossa beira.
Nas trevas em que o mundo aparenta ter mergulhado, as fracturas distanciam-nos perigosamente.
A mais aflitiva é que opõe a palavra ao pensamento. Tantas são as negociações que visam a instauração da paz. E tão gritantes são as violações que «defenestram» a paz, avolumando as guerras e os conflitos.
Enfim, a desumanização não dá sinais de abrandar. Pelo contrário, há (preocupantes) indicadores de que está a recrudescer de modo galopante.
Na «era do vazio», os extremos tendem a colidir de forma descontrolada. À falta de ideias – e de ideais –, nada mais sobrará para lá da desorientação e da crueldade?
Temos de resgatar – urgentemente – o «princípio da empatia» (tão agudamente escrutinado por Edith Stein), para nos colocarmos «no lugar» do outro e não abarrotados de aversão «contra» os outros.
Só quando a nossa prioridade for a felicidade dos outros (e não a hedonista obsessão de ser feliz à custa dos outros) é que o mundo estancará a «hemorragia» de desumanidade que a ameaça gangrenar!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira