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Comercialização do Natal

1. É evidente que não é minha intenção prejudicar seja quem for. O comércio, exercido como deve ser, é uma atividade muito digna.

Vender é uma forma de servir os outros. Servir com qualidade, com seriedade, sem abusar da necessidade alheia.

Se não houver quem venda a roupa que visto como me arranjo?

Quem comercializa fá-lo com lucro. O comerciante tem o seu emprego na atividade que exerce e também ele precisa de ter com que viver. Desde que o lucro não seja exagerado, nada a opor.

2. Vem isto a propósito do que chamo a comercialização do Natal. Precisamos que o comércio nos apresente o que faz falta para a digna celebração do Natal, desde o necessário para a ceia até ao adorno das ruas, das casas e das igrejas.

A minha intenção, hoje, consiste, apenas, em alertar os cristãos para que resistam à tentação de identificarem o Natal com as compras esquecendo-se do que é o verdadeiro significado do Natal e da forma como deve ser preparado e vivido.

3. O Natal é, acima de tudo, a celebração do nascimento de Jesus. É a comemoração do dia de anos de Jesus, embora se não conheça a data precisa de tal nascimento. Mas celebramo-la em 25 de dezembro, e por isso fazemos festa.

Com o objetivo de nos ajudar a preparar e viver bem o Natal existe o tempo litúrgico do Advento, que principia na tarde do próximo sábado.

4. A celebração do Natal deve levar a uma reflexão séria sobre quem é Jesus e que influência tem na nossa vida. Sobre a mensagem que nos traz: o amor, a fraternidade, a paz.

Amor que deve levar também à partilha de bens e à tomada de consciência de que ninguém tem o direito de ser feliz sozinho.

Fraternidade que deve levar a que cada um veja no outro um irmão e não um rival nem muito menos um inimigo.

Paz que tem por base a prática da justiça, o respeito pela dignidade e pelos legítimos direitos dos outros, a reconciliação entre as pessoas sempre que haja necessidade de restabelecer uma amizade rompida.

5. O Natal que o cristão celebra é o do Menino Jesus e não o do chamado pai natal.

O presépio, que em muitas casas e comunidades se monta, com mais ou menos arte, não deve ser de forma alguma o da bonecada. Nele, a figura central é a imagem de Jesus.

E o grande presépio a ser montado é no coração de cada um dos crentes.

Há sentimentos incompatíveis com a celebração do Natal. Num coração onde medram o ressentimento, o ódio, o orgulho, a inveja, os sentimentos de violência ou de vingança não há lugar para a presença de Jesus. Antes de montar o presépio no coração é imperioso proceder à limpeza do terreno.

6. Ao falar da comercialização do Natal pretendo, como disse, alertar os crentes. Que se não distraiam com coisinhas e mais coisinhas e se esqueçam do essencial: o nascimento de Jesus e a sua mensagem, que deve ser vivida todos os dias e não apenas uma vez por ano.

Se no Natal se procede à troca de prendas, não nos esqueçamos de que a grande prenda do Natal é essa de Deus se nos dar. Fez-se um de nós, encarnando em Jesus Cristo, para nos mostrar que a vida deve ser vivida com um amor que se manifesta em gestos de serviço desinteressado aos outros.

Se a melhor prenda consistir em fazer que não nasçam ervas no caminho que nos conduz aos outros, ponhamos de lado as bugigangas e vamos nós, em pessoa, ao encontro de quem de nós precisa.

Mais do que coisas, pessoas há que agradecem lhes demos tempo e disposição para as ouvirmos e lhes fazermos companhia.

Muito mais importante do que o Jesus do presépio é o Jesus de carne e osso, presente em tantas crianças sem carinho, em tantos doentes sem visitas, em tantos idosos depositados nos lares.


Autor: Silva Araújo
DM

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29 novembro 2018