É inevitável continuar a debater o impacto da pandemia do Corona Vírus – Covid 19 nas diversas dimensões humanas que ela tem devastado. O domínio da saúde é o mais importante, no entanto, já não há dúvidas que muitos contextos futuros e todos os quadrantes da dimensão humana serão afetados. O futuro já começou ontem, pelo que estará dependente da capacidade da nossa ação hoje e o tipo de resposta que conseguiremos dar amanhã, quando este pesadelo acabar. As nossas respostas terão que ser pensadas e coordenadas a nível global, e nenhuma das dimensões humanas (sociais, financeiras, económicas, desportivas, …) poderão ser esquecidas. Haverá que resistir a tomar medidas isoladas, isto vai exigir um tipo de comprometimento entre todos os países, todas as instituições (com maior exigência para as que têm capacidade decisória) e, acima de tudo, solidariedade. Esta pandemia colocou a nú, sem piedade, a nossa fragilidade humana e social. Existem diversas especulações e tentativas de antecipar o impacto que este vírus nos vai causar, mas independentemente disso, há uma verdade irrefutável: todos nós iremos sofrer danos diretos ou colaterais, hoje ou no futuro. Hoje, todos os governos, sem exceção, terão que assumir uma resposta rápida em injetar dinheiro, para evitar esta contração das empresas, e de certa forma que estas se mantenham numa posição de poder começar do zero, assim que estejam reunidas as condições sanitárias.
O desporto é uma das áreas que terá danos irreparáveis, aliás, já sofreu muitos constrangimentos e sofrerá muitos mais. Campeonatos suspensos, cancelamento ou adiamento de atividades ou eventos desportivos, atletas desmobilizados, ciclos de trabalho destruídos, financiamentos cancelados, são muitos dos acontecimentos mais visíveis. Mas, hoje temos que ter capacidade de impacto para absorver esta vaga mais drástica, e depois temos que aplicar uma estratégia de reconstrução do que ficar. Todos nós sabemos que o sistema desportivo é relativamente dependente e precário. Mesmo o ambiente profissional está muito dependente de patrocínios e de um sistema em que a saúde financeira tem que existir. Mas, o grande grosso da massa desportiva são os agentes dos desportos amadores, totalmente dependentes de formas de ordenados, enquanto prestadores de serviços (como atletas, treinadores) que, apesar, de serem pagos com valores irrisórios, em muitos casos, são fundamentais para poderem colocar comida na mesa.
Outra consequência desta “quarentena” é a própria interrupção dos quadros competitivos e consequentemente dos processos de preparação. Apesar de muitos clubes terem adotado medidas para minimizar o impacto da interrupção dos ciclos de preparação de atletas e equipas, todos sabemos que o processo de preparação desportiva é complexo e muito demorado, daí que será muito difícil retomar o nível de preparação construído até ao momento. Também por esta razão o adiamento, em particular, dos Jogos Olímpicos (e de todos os eventos desportivos internacionais) foi uma medida sensata, visto que todo o sistema de preparação, apuramento e qualidade de prestação estaria hipotecada por esta paragem forçada e para cumprir essas datas. Nestes tempos difíceis, apesar da saúde (pública, neste caso) ser o mais importante, temos que começar a pensar no que fazer para recomeçar… nem que seja do zero.
Autor: Carlos Dias