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COMEÇA O ADVENTO, TEMPO DE EXPECTATIVA E REFLEXÃO

É já este domingo que se inicia o tempo litúrgico do Advento. Este termo, na sua origem, não foi uma invenção dos cristãos dos primeiros tempos. Na antiguidade clássica, no mundo greco-latino, designava a primeira visita oficial de um personagem importante - o imperador, o rei ou um dos seus funcionários superiores a uma comunidade -, após a sua tomada de posse. Relaciona-se também com o vocábulo grego “parusia”.

Com certeza que os cristãos preparam-se nestes dias que antecedem o Natal para receber da melhor maneira Quem veio à terra, Deus encarnado, manifestar de um modo concreto o seu Amor por todos nós. A presença de Cristo no nosso mundo, sendo homem, é uma prova evidente dos cuidados que Deus tem para connosco.

Dá-se a conhecer de um modo muito concreto e perceptível. Fala-nos com a nossa voz, explica-nos a sua mensagem com simplicidade e exemplo, ensina-nos, como diria S. Paulo, seu futuro apóstolo, que aqui não temos morada permanente, sujeitando-Se à morte injusta e violenta pelo amor que sente pelos homens. Tudo o que empreende é a nosso favor e não tem ilusões sobre a capacidade que temos de fazer o bem, tanto assim que explica a S. Pedro que a bitola do seu perdão, que devemos imitar, não se limita a sete vezes, mas até setenta vezes sete. Ou seja, Ele é o melhor conhecedor das nossas debilidades e fraquezas, pelo que está sempre na disposição de nos desculpar, desde que sejamos capazes de nos arrepender e pedir-Lhe o perdão devido.

O que pode um ser humano fazer para que mostre, de modo claro e indubitável, a sua capacidade de amar os seus congéneres? Pôr à disposição a sua vida, entregando-a como resgate que supra a gravidade das culpas cometidas, se este é o seu preço adequado. Foi o que Jesus fez, sem hesitar um momento. A nossa felicidade plena é atingir o fim para que Deus nos criou: o Reino dos Céus. Se o pecado impossibilitou o homem de o atingir, Cristo reconquista essa dádiva divina com o seu oferecimento voluntário que termina no Monte Calvário.

Não é um amor teórico de um lunático que tudo teoriza e, na prática, não consegue alcançar nenhum objectivo. Quando nos diz: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”, comprova que a sua capacidade de nos amar não é um ideal visionário, mas absolutamente objectivo e concreto. Sujeita-Se a tudo o que faz sofrer, quer corporal, quer psicologicamente. Morrer na Cruz era próprio dos salteadores e de quem a sociedade em que se inseria repudiava sem comiseração. Lembremos, a propósito, que um cidadão romano, como S. Paulo, não podia ser crucificado, pois tal género de morte não era compatível com a dignidade de se pertencer à elite social. O apóstolo de Tarso foi decapitado; S. Pedro, como o Senhor, morreu na cruz.

Cristo homem era um judeu, pelo que se sujeita à condenação à morte mais violenta e ultrajante. E fá-lo, unicamente, porque sabe que a nossa felicidade eterna depende dessa sua doação sem limites. Para tanto, deixou-nos como lição sua que devemos tomar a sério: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Ou seja, para O seguir com fidelidade é necessário a humildade do amor verdadeiro, que tudo faz pelo bem de quem ama. Não se trata de sonhos e delírios, mas de, sempre com honestidade, realizar o que podemos e devemos fazer. Jesus não nos exige outra coisa. Conhece, como ninguém, as nossas limitações, e, por isso, como atrás se viu, sempre está disposto a perdoar-nos.

Quando olharmos, nas nossas casas, para esse Menino imberbe que pusemos nas palhinhas do presépio, recordemos que, quando adulto, não Se poupou a nenhuma humilhação e dor, a fim de que as portas do Reino dos Céus, fechadas pelo pecado humano, se voltassem a abrir para podermos nele entrar e gozar da única felicidade que vale a pena, porque é a verdadeira e definitiva.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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28 novembro 2021