Uma feliz coincidência permitiu que no lausperene da Igreja da Lapa, em Braga, com o coro do Seminário Maior a solenizar a Hora de Vésperas, tivesse sido possível celebrar da melhor forma o 5.º aniversário da eleição do Papa Francisco.
Carlos Aguiar, da Milícia de Santa Maria, referia isso mesmo ao agradecer no final das celebrações. Quase à mesma hora, há 5 anos, tínhamos a notícia da eleição do novo Papa, e entrámos numa era de surpresas muito agradáveis na maneira de ser e estar como Papa e sua relação com os cristãos e as pessoas em geral.
A simplicidade e a busca de uma vida em comum com os outros residentes na Casa de Santa Marta, a missa diária na capela da casa, com homilia apropriada; a preocupação com os pobres e a aposta numa igreja pobre e para os pobres; a pregação de um Deus de misericórdia que nunca desiste de cada um de nós;
o apelo a que os sacerdotes saibam estar próximos do povo, com preferência pelos que vivem nas periferias , sejam elas as da marginalização na habitação, emprego e condições de uma vida digna, sejam as periferias existenciais dos que vivem na solidão e na amargura com as provações da vida; a preferência pelos países pobres, quer para as viagens apostólicas, quer para a nomeação de novos bispos e cardeais;
o diálogo aberto com todas as confissões e credos, bem como com todos quantos procuram ser homens e mulheres de boa vontade; a dor e a vergonha sentidas com o escândalo da pedofilia, recebendo alguns dos que foram abusados e a todos pedindo perdão pela dor inaudita a que foram sujeitos; a tolerância zero com tais casos, embora não podendo ir ao encontro de quem quer ver apenas um lado da questão e tem dificuldade em compreender que a todos sejam garantidos os legítimos direitos de defesa para que se evitem sofrimentos injustos e letais para a dignidade das pessoas;
os gestos do lava-pés de Quinta-feira Santa, com pessoas representando os apóstolos que os bem pensantes julgam pouco recomendáveis para tal efeito; a escolha das meditações da Via-Sacra no Coliseu, este ano confiadas a um grupo de jovens de escolas públicas secundárias de Roma;
os exercícios espirituais da Cúria, sempre misturado com os outros participantes, sem qualquer lugar de destaque ou preferência, viajando de autocarro, com a inseparável pasta preta pessoal na mão; o convite deste ano a Tolentino de Mendonça para as reflexões dos exercícios espirituais da Cúria, etc.
A força e o sorriso deste homem de 81 anos que, face aos encargos e aos trabalhos que lhe são pedidos na sua missão de pastor universal, derrubariam o mais sábio e atlético dos seres humanos, não fora a energia que ele encontra nas mais de 4 horas diárias de oração, são um dos sinais mais emblemáticos da presença de Deus neste verdadeiro Homem de Deus que os pobres descobriram e adoptaram como seu verdadeiro amigo.
Ao papa Francisco podem aplicar-se com plena propriedade as palavras de outro grande papa, São Leão Magno, que, já no século V, afirmava: «Seja, neste tempo da quaresma, mais generosa a nossa liberalidade para com os pobres e todos os que sofrem, para que os nossos jejuns possam mitigar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes de acção de graças a Deus. Nenhum devoção dos fiéis é mais agradável a Deus do que a dedicação pelos seus pobres, porque, nesta solicitude misericordiosa, Ele reconhece a imagem da sua própria bondade.
Ninguém receie que estas liberalidades lhe tragam falta de recursos, porque a benevolência é já por si uma grande riqueza e, além disso, nunca os frutos da generosidade escasseiam onde Cristo alimenta e é alimentado. Em tudo isto intervém aquela mão divina que, ao partir o pão, o faz crescer, e ao reparti-lo o multiplica. Quem dá esmola, faça-o com alegria e confiança, porque tanto maior será o lucro quanto menos guardar para si.» Francisco prega sobretudo com o exemplo.
Francisco é o autor de, entre outros escritos: « A Alegria do Evangelho», «A Alegria do Amor», e revolucionária «Laudato Si», sobre questões de ecologia, não apenas no referente a questões ambientais, mas também com considerações pertinentes, profundas e inovadoras sobre a necessidade de uma verdadeira ecologia humana. Dos seus escritos transparece um olhar de pai e de misericórdia para com os muitos filhos cujo matrimónio não teve o êxito esperado e por Deus desejado.
É o Papa que aconselha os confessores a serem acolhedores dos penitentes e não polícias de alfândega. «O sacerdote confessor não é a fonte da Misericórdia nem da Graça, mas apenas instrumento». Não é o dono das consciências, mas alguém que ajuda ao discernimento da vontade de Deus na vida das pessoas que a ele acorrem.
Muito mais haveria para dizer. Ficam estas pinceladas para o quadro que quero emoldurar.
Autor: Carlos Nuno Vaz
Cinco anos com o Papa Francisco

DM
17 março 2018