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“Cidades Criativas”: um conceito estratégico de desenvolvimento urbano

A recente designação de três cidades do Norte de Portugal – Amarante, Barcelos e Braga – como cidades criativas e a sua integração na Rede Mundial da UNESCO é um facto da maior relevância regional e nacional que não pode deixar de saudar-se. Nas categorias de Música, Artesanato e Arte Popular e Artes Mediáticas, respectivamente, cada uma daquelas cidades teve a arte e o engenho de identificar a criatividade e a inovação em áreas que consideram prioritárias para o seu desenvolvimento sustentável e para a integração social e cultural dos seus cidadãos. Para melhor se compreender o significado e alcance da distinção ora obtida pelas ditas urbes nortenhas, importa conhecer a definição do conceito de “cidade criativa”, saber porque o mesmo se tornou fulcral nos processos de revitalização urbana de muitas cidades ocidentais e perceber a razão pela qual a UNESCO (organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2004, criou uma Rede de Cidades Criativas. Tanto quanto se sabe, foi o inglês Charles Landry quem, no final dos anos de 1980, concebeu a ideia de “cidade criativa”, no âmbito da actividade de investigação e consultoria que então desenvolvia na área do planeamento urbano e da revitalização das cidades. O conceito em apreço assenta na necessidade de criar projectos específicos para as cidades ou estratégias de longo prazo, elaborados pelas autoridades locais com a participação activa das instituições da sociedade civil e dos parceiros privados, de forma a desenvolver as infra-estruturas físicas e as expressões artísticas e culturais no que elas têm de mais valioso e genuíno, com criatividade e sentido de inovação. Trata-se, por conseguinte, de uma noção dinâmica que, tendo por eixo o reconhecimento do valor das pessoas como o principal recurso das cidades e do valor da participação cidadã e da partilha de experiências, visa tornar as cidades mais coesas, mais integradoras e mais agradáveis. Como muito bem disse o citado autor inglês, “é preciso pensar a cidade com todos e para todos”. E mais: um conceito que, na sua universalidade, aponta para o diálogo entre as nações, de forma a resolver questões globais como as do turismo e as dos refugiados, por exemplo. Dito isto, percebe-se agora a intenção da UNESCO ao criar a Rede de Cidades Criativas – “promover o desenvolvimento social, económico e cultural de cidades de países desenvolvidos e de países em desenvolvimento” e fomentar a “diversidade cultural”. Num mundo globalizado e cada vez mais interdependente é fundamental desenvolver a cooperação internacional entre as cidades que estão irmanadas pela crença de que a criatividade é um factor estratégico para o desenvolvimento sustentável, incentivando a criação entre elas de parcerias, extensivas a todos os seus sectores (público, privado e social). A partilha de experiências, de ideias inspiradoras e de actividades nos domínios que cada uma tem de melhor terá, necessariamente, de contribuir para aguçar a inspiração e o espírito de reinvenção das cidades, promovendo, assim, a “cooperação mundial para o desenvolvimento urbano sustentável”. Decorre do exposto que a integração daquelas três cidades portuguesas na rede mundial da UNESCO, na lista das 64 novas cidades criativas de 44 países, as coloca no pelotão da frente das que procuram encarar o futuro com uma estratégia colectiva de sucesso, trazendo reconhecimento internacional às suas universidades, instituições e empresas e incentivando outras entidades e grupos cívicos a investir localmente, potenciando assim a criação de novos postos de trabalho. E tudo isto num ambiente salutar onde a arte e a cultura são postas ao serviço da cidade. Uma nota final de muito apreço pela iniciativa das Câmaras Municipais na elaboração das respectivas candidaturas e pelo relevante papel que, nos casos das cidades de Barcelos e Braga, vem sendo desempenhado pelo Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, pela Universidade do Minho e pelo Laboratório Internacional de Nanotecnologia no domínio do desenvolvimento científico e tecnológico e do fomento e animação da vida artística e cultural das comunidades que servem.
Autor: António Brochado Pedras
DM

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1 dezembro 2017