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Chega

Agora estar a bater no ceguinho é que nos leva ao desespero por ver os deputados e os partidos muito ocupados a discutir aquilo que para nós já não tem qualquer segredo. Para nós, senhores deputados, partidos e políticos em geral, o que teria muito interesse era discutir por exemplo que planos já há para a época dos incêndios para o verão que aí vem. Que têm feito neste sentido? Que meios materiais e humanos estão disponíveis e preparados para uma nova época que se avizinha?

Quanto a isto, silêncio como no fundo dum poço. Quando voltar a arder hectares atrás de hectares de mata, pinheiros e eucaliptos, habitações rurais, cortes e gado, lá voltarão as intenções de melhorias para o ano. É sempre a adiar. Pelo silêncio que à volta disto se faz, até parece que a nossa floresta já está a salvo da época do calor. Se assim é, louvo-lhes a discrição com que gizaram os planos porque nós não sabemos nada. Outra coisa que nos preocupa é a dívida soberana portuguesa porque não se vê maneiras de a pagar.

Onde iremos todos parar com esta dívida? Nós vemos o IGCP a pedir dinheiro para poupar juros! Mas a dívida continua! Vamos amortizar a dívida ao FMI, mas a dívida continua. Até à eternidade que é coisa sem fundo nem fim E se os partidos e os políticos se empenhassem a salvar o país de mais uma bancarrota? Isso era bom, se os interesses de Portugal estivessem acima dos interesses dos partidos. Quem me dera que isto não fosse um sonho, dum país sonhado! Estas coisas merecem ser discutidas.

Mas há outras: gostaríamos de ver discutidas coisas concretas como as daquelas pobres crianças que foram arrancadas à mamada da mãe e dadas para adoção pelo poder soberano de um relatório sem contraditório; gostaríamos de ver discutida a questão das alcavalas que recaem sobre o preço da energia para permitir o aquecimento de lares e escolas; custa-me ver os primeiros morrerem com o monóxido de carbono das braseiras e os segundos levarem de casa as mantas para as salas de aula.

Que vergonha para um país que diz investir na educação! Gostaríamos de ver acelerada a discussão sobre a descentralização, tendo como doutrina de base o reforço do poder local. Repetimos, o poder local faz mais e melhor, com menos dinheiro. O poder central comporta-se como intermediário dos interesses locais. Tudo isto é importante ou será mais importante a questão Centeno? Gostaríamos de ver baixar os preços da justiça. Há quem não tenha dinheiro para ir a tribunal! Os senhores estão com falta de assuntos para discutir?

Fica-me o amargo de boca por gostar tanto da democracia representativa e este travo amargo acentua-se sempre quando vejo os nossos partidos e os nossos políticos estarem presentemente muito ocupados a discutir os episódios da novela Centeno; gostaríamos de ver transformados os “armazéns” de velhos, eufemisticamente chamados lares para a terceira idade, em lares de afetos, de respeito pela vida passada, em vez de lares de utentes.

Há lá tanto frio nos corações! Discutam o desemprego de longa duração sem utopias nem economicismos forretas; discutam a educação, falem sobre os cursos superiores e as saídas profissionais. Isto é a fatia. Deixem as migalhas. Estou de acordo com o decoro dos governantes. Se eles não dão o bom exemplo, fora. Não há insubstituíveis por mais bons técnicos que sejam.

A sociedade não pode suportá-los. Princípios são princípios e não há que escamoteá-los. Se não servem, fora, mas acabem com este massacre. Mas perante tantos problemas em aberto para discutir e encontrar soluções de estrita índole nacional, acham que o caso Centeno é mais relevante? Eu não. 


Autor: Paulo Fafe
DM

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20 fevereiro 2017