1. Celebramos o Natal porque Jesus nasceu. Esta é uma grande verdade.
Em que ano nasceu?
Dão-se alvíssaras a quem indicar, com precisão, o local, dia, mês e ano em que nasceu D. Afonso Henriques.
No entanto, ninguém põe em dúvida a existência histórica do fundador da nacionalidade portuguesa. Semelhantemente, a existência histórica de Jesus é uma verdade indesmentível.
Sabe-se, com toda a certeza, que Jesus nasceu no tempo em que César Augusto era imperador de Roma; Quirino, governador da Síria; Herodes o Grande, governador de toda a Judeia.
Durante séculos os cristãos contaram o tempo a partir da fundação tradicional da cidade de Roma (ab Urbe condita). Após a queda do Império Romano entendeu-se necessário criar um novo calendário, centrado sobre a pessoa de Jesus Cristo. Disso se encarregou no século VI o monge Dionísio o Pequeno. Enganou-se nos cálculos, pelo que o nascimento de Jesus deve ter-se verificado uns anos antes do começo da era cristã. Mesmo que pareça um paradoxo, escreve José Luís Martín Descalzo («Vida e Mistério de Jesus de Nazaré» I, pag. 149), Cristo nasceu entre o ano 5 e o ano 8 antes de Cristo. A isto se refere Bento XVI no livro «A infância de Jesus» (pag. 56) e disso informo também no livro «Viver o Natal» (pag. 59-62).
2. Pela fé sabemos que Jesus, nascido de Maria, é plenamente homem e plenamente Deus, sem confusão e sem divisão, como escreve também Bento XVI. «Cristo é a imagem de Deus invisível» (Colossenses, 1, 15). «Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-se de si mesmo, tomando a condição de servo» (Filipenses 2, 6-7).
3. O Pai Natal é uma figura criada muitos séculos após o nascimento de Jesus. Se na sua origem esteve o propósito de levar as pessoas a colocarem Jesus de lado; se produzida com intuitos comerciais, não sei. Estou persuadido de que vem sendo alimentada pela sociedade de consumo.
Pessoalmente não contribuo para a sua divulgação. Distribuo, de rosto descoberto, as prendas que entendo dever distribuir.
Dizia-se, mentindo, ser o Menino Jesus quem ia pela chaminé colocar prendas nos sapatinhos das crianças. Com a estória do pai natal substitui-se uma mentira piedosa por uma mentira comercial.
Que em vez da figura do pai natal se não deixe de montar o presépio.
4. Fez-se do Natal uma festa de guloseimas quando a sua verdadeira celebração deve consistir em pôr em pRática a mensagem de Jesus, centrada no amor mútuo. «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (João 13, 35).
Não se trata, é evidente, de um amor qualquer, mas de um amor isento de qualquer ponta de egoísmo. De um amor que se manifesta em gestos inteiramente gratuitos de doação e de serviço aos outros. «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei» (João 13, 34) e Ele amou sem medida.
A celebração da Natal está unida à prática da caridade e da reconciliação.
5. Diz um poema de Ary dos Santos que «Natal é quando um homem quiser».
O verdadeiro espírito do Natal deve ser vivido todos os dias. Todos os dias se deve praticar o acolhimento, o autêntico amor, o esquecimento de ofensas e agravos, estar atento às necessidades dos outros, saber repartir.
Ser cristão, mais do que ser batizado é viver à cristão. Que todos os dias se viva Natal praticando a verdadeira fraternidade. «Que permaneça a caridade fraterna. Não vos esqueçais da hospitalidade. Lembrai-vos dos presos. Vivei sem avareza», recomenda-se na Carta aos Hebreus (13, 1-5).
Autor: Silva Araújo