Hoje em dia é quase unânime afirmar-se que os grandes clubes se dedicam à formação de jogadores pensando nos futuros seniores. Estudar a nossa formação desportiva poderá passar por caraterizar o passado e o presente, o percurso dos nossos atletas até ao escalão de seniores, reconhecendo que nem todos os atletas reúnem condições para que atinjam o tão almejado topo da pirâmide.
Não obstante todo esse estudo de acompanhamento do percurso formativo, importa igualmente perceber de que forma, enquanto sénior, é possível à maioria dos nossos atletas terem um projeto de carreira desportiva que os mantenha fidelizado à modalidade.
Muito embora sem dispor de dados precisos e representativos, disponho de alguns exemplos de jogadores que, tendo tido oportunidades para integrar equipas seniores representativas, tiveram de abdicar dos seus percursos académicos para conseguirem acompanhar as suas equipas num ambiente que, em alguns casos, é profissional.
As exigências da competição obedecem a uma total exclusividade de preparação e treino que, particularmente em jovens que procuram o seu espaço, implica simplesmente optar e não conciliar.
Se considerarmos que muitas destas opções levam a que o atleta invista sem que isso lhe traga muitas oportunidades de participação efetiva em jogos, traduzida em muitos minutos, talvez possamos estar diante de um tema merecedor de reflexão.
Outrora, do qual apenas pretendo ilustrar e não direcionar a reflexão para um saudosismo do tipo “antigamente é que era”, em muitas equipas das nossas principais competições profissionais que treinavam todos os dias, tinham como contrapartidas empregos, que em muitos casos permitiram após o término da carreira desportiva disporem de um futuro profissional.
Sabemos que a realidade atual não permite este cenário, mas talvez fosse interessante que os clubes quando acolhem jogadores com potencial para integrarem os seus projetos desportivos, fossem confrontados com algumas contrapartidas que, mais do que uma simples remuneração mensal, pudesse comprometer o atleta com a continuidade dos seus estudos, com o estabelecimento de objetivos académicos compatíveis com a sua preparação e participação desportiva, a exemplo do que acontece hoje em algumas universidades em que o apoio a atletas de alto rendimento é efetivo, tornando a sua missão académica mais facilitada.
Sabemos que para um jovem universitário que se desloque para os grandes centros académicos, o pagamento de propinas, o alojamento, alimentação e eventuais transportes, são as despesas mais prementes a suportar. Estarão os clubes despertos para esta realidade?
Creio que em alguns contextos, clubes suportam algumas destas despesas a atletas que representem os seus clubes. Mas será esta uma prática habitual?
Claro que não e muitas vezes acaba por se perderem alguns talentos que não conseguem conciliar os estudos com a prática desportiva optando pela via académica visto que lhe dará mais garantias de um futuro profissional em detrimento de uma carreira desportiva que é sempre uma incógnita e um cenário difícil de gerir.
Autor: Luís Covas
Carreira desportiva
DM
25 maio 2018