Á semelhança da tradição satírica nas “Cantigas de escárnio e mal dizer”, transmitida oralmente, o trovadorismo moderno tem um impacto fortíssimo na sociedade, essencialmente, porque usa os meios de comunicação social e as redes sociais como formas privilegiadas de divulgação.
Os programas televisivos, de puro escárnio e mal dizer, repleto de moralismo fanático e oportunista, com alvos seletivos, estão a transformar as pessoas que acompanham o fenómeno desportivo em verdadeiras “barras de dinamite”. Entretanto, com a democratização de utilização de meios de expressão, como são as redes sociais, acessíveis e de fácil utilização, promovem-se e inflamam-se discussões e debates, a maioria como armas de arremesso, que ultrapassam o razoável bom senso. É muito evidente que os órgãos de comunicação social são fundamentais e também são responsáveis por tornar o fenómeno desportivo altamente mediático e participativo, em todo o mundo e também em todas as culturas. Este ponto é crucial para entender a importância, quer do ponto de vista sociológico quer cultural, das críticas e das análises que neles são produzidas, pois estas tornam-se facilmente virais. Trata-se de uma fronteira, muito ténue, entre a opinião e a calúnia, entre a análise crítica e a ofensa, o direito e o crime. Claro que os direitos adquiridos em 25 de abril de 1974, no tocante à liberdade de expressão, e em muitos outros, foram e são muito importantes, no entanto, é em nome dessa liberdade de expressão que devíamos ponderar, muito bem, todos aqueles programas televisivos e os respetivos responsáveis editoriais, os elementos dos painéis e acima de tudo, o formato dos programas que invadem, diariamente, a nossa televisão.
O desporto é um fenómeno absolutamente fascinante, significativo e importante para tornar as pessoas com mais capacidades (físicas, crítica, preceptiva, humanista, social, volitiva), pelo que, estes formatos televisivos “educam” as pessoas a traçar caminhos precisamente contrários. Há uma análise fanática, excessiva, desrespeitosa, puramente clubística, que inflamam, depois, os tipos de comportamento que se verificam nos estádios, nos pavilhões, na assistência, nos pais, nos dirigentes, nos treinadores e nos praticantes. É, também por isto, que se veem tantos atos altamente negativos por esses campos fora.
Por exemplo, neste último jogo de futebol, entre o SC Braga e o SL Benfica, os casos do jogo, a pressão sobre a equipa de arbitragem, a conduta, a pressão jornalística e o comportamento das claques e demais assistência, são puro reflexo do que até agora referi. À semelhança do que acontece com a formação desportiva: um campeão não se faz à pressa. É preciso trabalho árduo, empenho, consistência, valores e conduta. Todos nós temos o dever e a responsabilidade de preparar os nossos jovens para o futuro e cuidar de todos os processos que possam engrandecer a pessoa e a sociedade, sem pressa, com mais educação, autoconsciência, respeito, espírito crítico, racionalidade, valores e princípios humanistas. Nem tudo serve e não vale tudo.
Autor: Carlos Dias
Cantigas modernas de escárnio
DM
3 maio 2019