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Candidatos à eleição seguinte

No período que decorreu antes das eleições autárquicas de Dezembro de 1989, fui a um jantar na casa de candidato do PSD a uma junta de freguesia do concelho de Braga, onde o advogado Dr. Naia dos Santos, que de memória tenho como sendo o então presidente da concelhia, se lamentava da dificuldade em vencer o Eng.º Mesquita Machado e de encontrar candidatos às juntas para engrossar as listas do partido que na altura era da oposição.

Contrapus que para vencer as autárquicas contra uma liderança tão solidificada à data, o principal partido da oposição não podia estar a apresentar diferentes candidatos a edil em cada eleição, antes necessitava de construir um candidato e a sua imagem, até para perder uma ou duas vezes, mas que numa terceira tentativa, ao fim de vários anos de oposição, estaria afirmado e capaz de convencer os munícipes.

A História veio confirmar o argumento pois Ricardo Rio, ao fim de oito anos de liderança da oposição, logrou ascender com firmeza à vitória final, tendo ainda existido inteligência da concelhia que o soube manter e nele reiterar o voto de confiança.

A regra é que o poder não cai do céu, são muitos anos a construir uma carreira política, muitas horas de sono perdido em campanhas, sacrifício da vida familiar e profissional, pelo que a visibilidade do trabalho em oposição é suscetível de ser um bom palco para convencer os eleitores das capacidades para comandar o pais ou a autarquia, sobretudo quando se trate de um político neófito ou que ressurja após uma longa ausência.

Num interessante artigo de Dorie Clark na Harvard Business Review reportava-se que logo que a corrida presidencial americana de 2008 terminou com a vitória de Obama, as equipaS deste e de Mitt Romney, que viria ser o candidato republicano de 2012, começaram de imediato a trabalhar na corrida às eleições presidenciais seguintes e este ainda para a nomeação, mapeando dia a dia, mês a mês e ao mínimo detalhe as atividades precisas para alcançar a vitória. As organizações partidárias são entidades inerentemente políticas e um político que insiste que não precisa de uma estratégia à la longue para ser eleito, porque os eleitores rapidamente se convencerão dos seus méritos, estará provavelmente no caminho do insucesso.

Este planeamento assume particular relevo nas eleições locais, perante o cenário em que o presidente do Município ou da Junta concorre a um terceiro e último mandato. Ao candidato do partido mais relevante da oposição, pode interessar concorrer com vista às eleições seguintes em que já não concorrerá contra o presidente, ganhando visibilidade na primeira campanha e nos restantes quatro anos na liderança da oposição, sem prejuízo da possibilidade que sempre existe de ganhar inesperadamente logo no primeiro ato.

Mesmo relativamente ao partido que lidera o executivo municipal, as eleições para o terceiro mandato contam para a escolha do sucessor, sendo normal que o edil e o seu partido destaquem nas listas o indigitado ou, pelo menos, o sinalizem na campanha ou logo após a eleição, garantindo-lhe visibilidade durante quatro anos. No caso do PSD em Braga não é certo que esse sinal tenha sido dado. Em caso da projetada vitória ver-se se a escolha será feita pelos dois principais rostos da concelhia, mantendo-se Ricardo Rio neutral, ou se algum dos vereadores militantes ganhará vantagem, sendo relevantes a subida na hierarquia da lista e o desempenho do que ficar com o pelouro do urbanismo.

Quanto aos outros partidos é envolvente atentar no posicionamento dos novos partidos à direita, relativamente ao ingresso em coligações para as próximas eleições autárquicas, não tanto do ponto de vista de carreira política dos candidatos, mas de projeção para o futuro dos próprios partidos.

À IL importa mais crescer do que consolidar, daí a decisão de não integrar coligações, desinteressando-se de eleger um ou pouco mais membros sem projeção na AM e aplicando-se antes numa posição crítica mais atrativa do eleitorado. Ao contrário, ao Chega convinha mais associar-se, para crescer através da ampliação da voz populista do seu líder por vereadores e nos grupos municipais.

Mas a análise política não passa disso mesmo, as variáveis são muitas, os riscos imensos, a grande sondagem é o resultado eleitoral. Mas como repetia Churchill, é melhor lutar por algo de que viver para nada.


Autor: Carlos Vilas Boas
DM

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14 julho 2021