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Cá se fazem, cá se pagam

Afinal, a incoerência da posição do BE e do PCP é dúbia e falaciosa, pois, por um lado, reprovam a medida que beneficiava as empresas (descida da TSU) e, por outro lado, concordam com o PEC que traz às empresas igualmente benesses; e estas vacilações e ambiguidades da extrema-esquerda não são habituais e, muito menos, constam da prática política destes grupos, quando a luta é contra os patrões, empresários e empregadores. 

Passados alguns dias, é o PS a chumbar as propostas do BE e do PCP a exigirem a nacionalização do Novo Banco; e a razão do PS e do Governo prende-se com as dificuldades em arranjar comprador, pois as propostas de compra são poucas e muito baixas; ora, como diz o povo, cá se fazem, cá se pagam; e tudo isto mais parecendo o jogo do rato e do gato que o Governo e seus parceiros parecem jogar. 

Todavia, o que mais surpreende em tudo isto é o funcionamento desengonçado da geringonça, sem uma linha de rumo concertada e, muito menos, um programa comum de governação; apenas, se vê que obedecem ao objetivo único de afastar a direita do poder, ignorando completamente os interesses do país e do povo.

Penso que, a continuar assim, e muitas são as próximas batalhas que o Governo tem de enfrentar com os parceiros (as PPP na Saúde, o aumento dos dias de férias para os trabalhadores, a saída do Euro, a renegociação da dívida, o aumento de pensões, o descongelamento de salários e carreiras na Administração Pública, o fim da precariedade laboral no Estado, o salário mínimo de 600 euros, as 35 horas semanais para o setor privado, a revisão dos escalões do IRS), penso, pois que, a continuar assim, o futuro da geringonça tem os dias contados; porque olhando para os problemas que o país enfrenta, o Governo não pode fazer uma governação aos repelões, sem consistência e à boleia dos parceiros de apoio parlamentar que, tendo de apoiar medidas que não constam dos seus programas e ideologia, acabam por ter à perna os seus militantes e simpatizantes; e isto começa já a verificar-se na descida que sofrem nas sondagens que por aí vão sendo publicadas.

Por outro lado, o PS não lucra nada com estas exigências dos seus parceiros que transforma a governação numa autêntica coboiada, quando o país real precisa de medidas e reformas estruturais e não de arranjos de ocasião e de mera estratégia política e eleitoral; e que são formas históricas de atuação do esquerdismo radical que António Costa bem conhece, usadas para abrir brechas e criar muros em vez de lançar pontes e abrir espaços de diálogo construtivo. 

Pois bem, até quando vai durar esta posição do PS que o pode arrastar para um sério revés eleitoral, já que os seus parceiros de governação não vão parar com os seus intentos e manobras de aprovar legislação que lhes convém? Até porque igualmente temem a verdade das urnas. 

E o Presidente da República porque espera para tentar uma aproximação entre os dois partidos do arco da governação (PSD e PS), em vez de consentir nesta pseudo-governação que não leva a lado nenhum? Será que está à espera de poder fazer ao Governo de António Costa o que, em 2004, o então Presidente Jorge Sampaio fez ao Governo de Santana Lopes, demitindo-o e convocando eleições, quando se apercebeu que o PS e José Sócrates as podiam ganhar e o que realmente aconteceu e com maioria absoluta? Desta forma, poderá entregar o Governo a Passos Coelho, vingando o truque do PS ao inventar a geringonça.

Por vezes, os desígnios de um Presidente da República são imprevistos e insondáveis; e admite-se que, como Presidente de todos os portugueses, assim seja, e os use para o bem comum e do país. 

A ver vamos. 

Então, até de hoje a oito.

 

Autor: Dinis Salgado
DM

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8 fevereiro 2017