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Nestas “Legislativas” de 2019, PSD e CDS tiveram derrotas-recorde). Raramente, excluídos os anos 70 e a ditadura do MFA, o Centro-Direita português teve resultados tão pobres. A culpa foi sem dúvida da prolongadíssima inacção de Rui Rio, como chefe do maior partido da Oposição; o qual, na sua inocência, andou a pensar que namorava o dr. Costa para uma descabida opção do bloco central (PS-PSD). Esta opção, porém, só acontece em situações de emergência, como foi o caso recente na Alemanha, devido à subida repentina do AfD (extrema-direita) até aos 13,5%. Assunção Cristas (CDS) desempenhou contudo bem o seu papel; hostilizou adequadamente as hipocrisias do governo de Costa (o qual aproveitou e administrou bem o pecúlio recuperado no consulado Passos-Portas, mas nunca o confessando). As culpas de Cristas virão contudo de mais atrás; os votantes talvez se tenham lembrado de alguns seus deslizes no tempo de Passos Coelho: desprotecção dos inquilinos mais pobres; facilitação do eucalipto; autorização de barragens (especialmente no paisagístico rio Tua); ou introdução da carta por pontos.
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Um PSD irreconhecível (o de Rui Rio) e um Centro-Direita desfeito). Quando os generais abandonam a luta, que podem fazer os seus oficiais e soldados? Desde que em 2018 tomou o poder no PSD (vencendo Santana Lopes por uns magros 54 contra 46%), Rio sucedeu ao zeloso Passos Coelho; o qual, se tornou impopular para os ignorantes, por ter sido obrigado a governar consoante as “ordens” dos nossos intolerantes credores estrangeiros, donos dos nossos euros. Foi durante esse governo Passos-Portas que Rio deu o 1.º passo no caminho que o está agora, finalmente, a fazer cair em desgraça. Então, Rio dessolidarizou-se do obrigatório esforço de disciplina orçamental que o governo do seu partido (PSD) fora obrigado a adoptar. Muitos ficaram a olhá-lo como um “traidor”. Até porque, já então confraternizava com frequência com António Costa, que também traiçoeiramente roubou ao seu chefe, José Seguro, a chefia do PS e a liderança da oposição.
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Rio, um ano e meio a “fazer-se de morto”). Em 2018, Rio foi cilindrado no 1.º debate contra Santana Lopes, mas lá conseguiu equilibrar o 2.º. Um pouco à maneira de Costa contra Seguro, que também perdeu os debates televisivos, mas ganhou “na secretaria”. Rui Rio rodeou-se então (e até hoje), de figuras da 3.ª e 4.ª linha do PSD; e faço ideia do valor médio dos deputados que ele escolheu e agora foram eleitos; os quais vão decerto complicar a vida a quem em breve vier a suceder ao mesmo Rio. A pobre táctica de Rui Rio para estas legislativas foi o “fazer-se de morto”: raramente aparecia; comentava tarde e a más horas os assuntos em que o governo PS “metia água”; não fazia críticas incisivas, mas limitava-se a “opiniões construtivas”. Tudo numa óptica, perfeitamente descabida, de ambicionar que o PSD se tornasse suculenta “noiva” nalgum futuro governo do PS.
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Rio só “acorda” na recta final, mas já vai tarde…). É como em certas corridas do “meio-fundo”; certos atletas guardam-se para o fim, mas calculam mal o esforço; recuperam algum terreno mas já é tarde. Nos dias finais da campanha eleitoral já parecia outro, mais natural e descontraído; finalmente ao ataque, mas sem deixar de ser algo patusco, à sua maneira peculiar; sempre irrequieto e impaciente para com os jornalistas, sempre a ralhar, às vezes a comicamente soletrar partes das frases, parecendo um professor primário. E sobretudo dando ideia de piamente acreditar que é um “vencedor nato” e que Portugal é a câmara do Porto. Nunca tendo percebido que ganhou a 1.ª vez a um Fernando Gomes que se tornaria impopular por ter fechado a baixa do Porto para obras (por 4 anos…); e por ter instalado a ETAR do Porto ocidental no meio de 3 bairros densamente povoados, esquecendo o vasto espaço alternativo do “Parque da Cidade”. Mas houve outras opções de Rio, mais recentes, que ajudaram o PS de Costa. P. ex., a sua mal explicada proposta de reforma eleitoral, com a demagógica redução do n.º de deputados; o caricato sistema das “cadeiras vazias a representar os abstencionistas”; o apoio a greves impopulares (enfermeiros, professores e sobretudo, camionistas); a aprovação expressa (em vez de se calar) ao que, na sua cabeça, Costa fazia de bem.
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Uma “sementeira “ de 4 anos). Num país sem verdadeira Direita, o desaparecimento de cena do PSD por quase 4 anos, levou ao fortalecimento da Esquerda e (muito mais perigoso), ao aparecimento e enraizamento de várias formações de extrema-esquerda, com as suas ideologias radicalmente contrastantes com a maneira de ser dos Povos. Falo, é claro, do BE, do PAN e agora, do Livre. Ambicionam ser cultural e politicamente as novas “donas disto tudo”, as minhas conterrâneas Catarina (“Greta”) Martins, com a sua voz dilacerante; e Mariana Mortágua, especialista em sugar fiscalmente a classe média (na esteira de seu pai, autor, nos anos 60, de certo levantamento bancário que não está ao alcance de todos). Sonho de tanto nativo da neolítica Lusitânia, o Livre fez eleger à justa (1%) uma deputada (de raiz guineensse) que, parece, se faz passar às vezes, por muito gaga, atributo consabidamente exigível a todo o parlamentar… desde o tempo de Demóstenes (m. 322 a. C.).
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Sem visibilidade televisiva, não há votos). Os “media” deram atenção desmedida ao vegetarianista, animalista (e budista?) PAN, a formação do insinuante André Silva, que quadruplicou o n.º de deputados (ele disse “quadri-“). Apesar de boicotado, outro André (Ventura) conseguiu ser eleito pelo “Chega”, um partido que faz sombra aos ainda mais boicotados salazaristas do PNR (de Pinto Coelho). Com 0,7% ficou o Aliança (de Santana Lopes), vítima especial do citado boicote.
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Irá Rio demitir-se?). No discurso da noite eleitoral, até parecia que tinha ganho! Porém, à saída, deixou subtilmente o assunto em aberto. Muitos decerto aplaudirão a sua substituição por alguém como Hugo Soares, Montenegro, Abreu Amorim ou até Marco António Costa.
Autor: Eduardo Tomás Alves