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Braga não perdeu, ganhou o futuro

Nenhum bracarense terá ficado indiferente ao anúncio do júri sobre a futura Capital Europeia da Cultura, em 2027. A aposta da cidade, numa inédita e efetiva participação coletiva, que muitos pensavam ser impossível, aconteceu e só este facto, per si, é mais do que suficiente para valorizarmos o consenso gerado. É verdade que a sua atribuição, daria condições a Braga para resolver muitos dos investimentos pendentes, mas o consenso gerado em torno da candidatura, facilitará, no futuro próximo, a sua viabilização. Não me recordo de ver em plena democracia, que se tenham reunido condições políticas tão favoráveis como as que foram conseguidas pela equipa que esteve à frente do projeto. Parabéns, portanto, à Cláudia Leite e a todas e todos que rasgaram uma visão de futuro coletivo tão profícua, num trabalho árduo iniciado em 2018. Quatro anos depois, o orgulho pelo trabalho feito é superior ao desalento e sentimento de perda que a decisão do júri inevitavelmente criou. Mas exatamente por isso e porque a cidade passou a contar com um instrumento poderoso para o seu futuro de médio e longo prazo, o balanço tornou-se numa catarse mediática que tem tudo para vencer. O que falta fazer e está explanado no projeto de candidatura exige um esforço financeiro avultado (28 milhões oriundos da Comissão Europeia e do Estado), o que não deixando de ser um empecilho para a sua viabilização conta, pelo menos, com a disponibilidade política para dar corpo a um plano de investimentos que deverá obrigar a Câmara Municipal a repensar a percentagem de investimento que vai alocar para a área da Cultura nos próximos anos. Já se percebeu, há muito, que um euro investido neste setor se multiplica de forma transversal pela economia, gera atratividade e é transformadora estrutural do estar e do ser numa cidade como Braga. Talvez não seja tão disparado, como se possa pensar, que a cidade passe a contar, no futuro próximo, com uma estrutura proativa, transversal e disponível para ser aglutinadora das boas vontades geradas ao longo dos últimos quatro anos. O presidente da Câmara, que acumula o pelouro da Cultura, sabe que a dinâmica agora gerada, gerou um transvase orgânico, deixando de ser um pelouro secundário das políticas camarárias para se tornar numa prioridade coletiva e isso equivale a termos uma plataforma a funcionar externamente e com capacidade para implementar um programa gerador de mais valias para uma cidade que se quer seja exemplo no domínio do Conhecimento e da Cultura. É por isto que a cidade não perdeu, ganhou o futuro, gerou o debate suficiente para ser aglutinadora da forma como nos queremos projetar. O mais difícil, no imediato, é manter o espírito bem vivo ente todas as partes envolvidas. Oxalá, esta não se transforme numa arma de arremesso político por razões de cálculo partidário. A Cultura é demasiado importante para a afirmação de uma cidade, para estar dependente dos calendários eleitorais. Entendo, aliás, que esta devia deixar de ser uma área partidarizada para ser definitivamente estratégica e transformadora. Há um longo caminho para percorrer na assunção da responsabilidade coletiva, mas é por aí que se geram recursos e capacidade de intervenção que, de outro modo, pode arrastar processos e projetos para a indefinição. Por outro lado, esta é uma oportunidade única para um debate que, não pondo em causa a identidade trabalhada no projeto, permita gerar sinergias em torno do que somos e quem queremos ser no futuro. Ou seja, a cidade deve ser capaz de gerar uma avaliação sobe o que é ser bracarense hoje, quais das suas raízes perduram e o que queremos ser nas próximas décadas. O desafio não tem nada de novo. Começamos em 2018 a pensar em 2027, pois bem, comecemos agora a trabalhar para afirmar a identidade de Braga nas próximas duas décadas. Não é difícil. Basta manter a equipa e a necessária conjugação de esforços como os que foram agora consensualizados para teremos os meios e os recursos necessários para afirmar a identidade de Braga. Nesta oportunidade, a diferença e a sensibilidade distinta de cada um, não se podem transformar em unanimismo, mas sim numa oportunidade de convergência que inclui, dinamiza e fortalece uma cidade.


Autor: Paulo Sousa
DM

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11 dezembro 2022