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Boas férias e até setembro

Todavia, estes não são os banhos que, aqui, me trazem e de que o povão, em férias, pode usufruir e, noutros tempos, tinham o mérito e, quantas vezes, receita médica eram, de, pelo menos uma vez no ano, pôr os broeiros a lavar as côdeas; são outros; são banhos de mar, rio, sol e pasmaceira que levam qualquer mortal, de papo ao alto, a curtir o espaço imenso e azul com arremedos de poeta ou filósofo encartado.

E sempre assim é: mal chega o verão, quer chova ou quer faça sol ou assim-assim, é uma autêntica maluqueira nacional; porque tudo quanto seja sol ou mar é sortilégio, é libertação; talvez porque nós, portugueses, herdamos essa carnuda costela marítima que já vem de longe, de Gamas e Cabrais, e nos atrai aos oceanos.

Ao fim e ao cabo, ainda é dos poucos prazeres que não pagam impostos; mas, não admira que seja por pouco tempo tal a sanha vampírica do governo em taxar tudo que mexe; ademais, nem o buraco do ozono é problema, porque vai cicatrizando ao jeito e gosto dos meteorologistas, permitindo, assim, cada vez mais a fuga às cidades poluídas e incaraterísticas. 

Força, pois, bom tuga, que dos prazeres, do vinho e das mulheres a fama tens mas, nem sempre o devido proveito, e faz como qualquer digno mortal que se preza e tem o sentido do gozo fácil e barato: estende o teu cabedal, mesmo peludo, ao sol, numa qualquer praia cá da zona, com bandeira azul que norma europeia e sinal de menor porcaria nacional significa; e vê como vai o físico dos teus patrícios e patrícias que à tua frente desfilam em trajos menores; e, facilmente, chagarás à patética conclusão que o Governo ainda lhes não tirou a pele toda, mas já pouco falta. 

Não há dúvida, pois, de que a praia tem destas cruas desmistificações: aí, em trajos menores, é que se vê como as coisas vão por dentro e, muito claramente, como somos enganados quando avaliamos as pessoas vestidas; e o que nos leva a dizer que muitas vezes mais apetecíveis são certas pessoas bem vestidas do que mal despidas, sendo, assim, a poluição visual menor e, como tal, mais profilática.

Claro, como o meu amigo tuga não é dos que granjeou casa própria na praia, como muitos malabaristas que por aí se pavoneiam e o conseguiram enquanto o diabo esfregava um olho e o povo os dois tinha fechados, deixe-se, ao menos, embalar pela maior e única certeza de que eles hão de bater a bota como todos nós, lhes chegarão igualmente sete palmos de terra para eterna morada e sendo o mais importante o que se leva na bagagem e o epitáfio que realmente se deixa. 

Depois, se tiver a sorte de lhe não doer nada, de ter uma bucha para o almoço e outra para o jantar e de ainda lhe sobrarem uns trocos para o cafezinho e o tabaco, dê-se por satisfeito; e, sempre que for votar, seja para o que for, pense sempre a quem não deve dar o voto; porque, afinal, eles, não se parecendo nada uns com os outros, acabam todos iguaizinhos: prometem muito, cumprem pouco e sofrem de amnésia total e coletiva. 

Então, pensamentos positivos e cabeça fria neste verão; e muitas banhocas e outros tantos mergulhos, mesmo que seja na banheira lá de casa, se não abichar umas escapadelas à praia; e cuidado, muito cuidado com as cãibras… na carteira, porque, após todos os verões, sempre se agudiza a sanha fiscal do Governo em tudo que dê algum para sacar; e, sobretudo, veja se consegue gozar muito e gastar pouco, porque o contrário não tem piada nenhuma, embora seja o que a maioria capaz é de fazer. 

Então, boas férias, se for o caso, e até setembro.

 

Autor: Dinis Salgado
DM

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5 julho 2017