As cidades da Europa e do mundo, e aquilo que mais as dinamiza, merecem a atenção regular da revista britânicaMonocle. O número mais recente, de Julho e Agosto, entre muitas matérias de leitura proveitosa, inclui 50 exemplos do que pode servir para qualificar uma urbe ou 20 conselhos sobre “como ser um bom cidadão”, além da lista anual das melhores cidades do planeta para viver.
Mais interessante do que a classificação das 25 melhores metrópoles – que coloca Lisboa em 10.º lugar –, são os critérios estabelecidos para as ordenar e, sobretudo, a reflexão que estimula sobre o que é uma boa cidade. Entre seis dezenas de parâmetros, a avaliação tem em conta o custo dos transportes públicos, do aluguer de um apartamento ou de um bom almoço. A qualidade das cidades é ainda aferida por critérios tão variados quanto o número de parques urbanos, o montante investido em infra-estruturas, a oferta cultural, a segurança e a qualidade dos serviços públicos. Este ano, também foi apreciada a transparência da governação local.
A análise individual das cidades tem uma particularidade útil, ao indicar o que, em cada uma, deveria mudar. Em relação a Lisboa, o mais negativo diz respeito ao turismo descontrolado e ao custo excessivo do aluguer das casas, o que é referido como sendo assaz pungente no país que tem o salário mínimo mais baixo da Europa Ocidental.
Em “50 passos para melhorar a sua cidade”, a Monocleapresenta o mesmo número de exemplos concretos do que múltiplas cidades concretizaram e que a revista considera terem servido para as aperfeiçoar. A enumeração, que em muitos casos exibe uma ou várias fotografias, refere-se a coisas simples, a pequenos projectos ou a simples detalhes, e inclui os arranjos florais que se encontram nas ruas de Tóquio, a Capela Kamppi, em Helsínquia, os pequenos museus de Toronto ou os espaços para o crescimento não planificado de flores selvagens, em Beirute. O rol não ignora alguns bons exemplos portugueses: a identidade gráfica do Porto, os passeios de Lisboa (muitos ainda se recordam do tempo em que em Braga havia o engenho e o brio para colocar em linha recta meia dúzia de pedras da calçada) e os sítios panorâmicos do Porto.
Sublinhando a importância da boa governação local, capaz de cuidar devidamente das infra-estruturas, dos parques e dos espaços públicos e de oferecer boas escolas e forças policiais eficientes, a Monoclenão esquece que as boas cidades não se fazem sem bons cidadãos. “Como ser um bom cidadão” é o título da lista de conselhos que a revista oferece para aperfeiçoar a responsabilidade cívica. Prestar atenção aos outros é a primeira sugestão. Desligar-se de si próprio e dos seus gadgetsé benéfico, mas ser sensível ao que se passa em redor tem, todavia, limites. Daí a segunda recomendação: “pare de bisbilhotar”. A advertência é também dirigida a quem fotografa e filma os que ocasionalmente podem estar no mesmo lugar, mas têm direito a não se verem, a seguir, expostos nas redes sociais. O bom cidadão, diz em terceiro lugar a Monocle, é o que lê o jornal local. Ou, melhor ainda, o que o assina.
Participar não é apenas uma das vinte propostas para qualificar a cidadania. Outras sugestões implicam necessariamente um envolvimento activo. Ser um bom cidadão requer igualmente que se seja um bom vizinho, que se faça compras nas lojas do quarteirão e que se mantenham limpas as ruas, as avenidas e as praças. Não parece ser complicado.
Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
Boas cidades e bons cidadãos
DM
7 julho 2019