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Aumentos versus emprego

Qual é mais importante, dar trabalho a quem o não tem, ou dar dinheiro a quem tem trabalho? Esta foi a pergunta que o primeiro-ministro de Portugal fez a si mesmo quando confrontado com a indisponibilidade de satisfazer as duas partes da questão. E respondeu que era mais importante dar trabalho a quem está desempregado, mesmo que implique não dar aumentos aos funcionários públicos. Quem não está de acordo é Jerónimo de Sousa e Catarina Martins; o histórico secretário-geral do PCP que queria as duas coisas; a senhora do BE diz não compreender a frase do primeiro-ministro. O que seria ótimo era contentar os funcionários públicos e arranjar emprego para os desempregados, esta era sem dúvida a melhor resposta; mas a questão não é essa, a questão põe-se em uma e apenas uma das soluções. Sendo assim e assim parece que é, a opção do primeiro-ministro parece-me a mais justa. Só quem não tem trabalho e dele precisa para viver, isto é, para poder pagar as suas contas, é que faria a opção de aumentar os vencimentos da função pública. Argumenta o secretário-geral do PCP que há dinheiro para pagar as más gerências dos bancos, e são milhares de milhões; este argumento, embora seja verdadeiro, só é inteligente em socialismo; numa perspetiva não comunista não há economia sem uma banca forte. É esta quem cria emprego e não são os aumentos salariais. Catarina Martins diz não compreender a frase de António Costa; não quer compreender porque deixa que a volição ganhe à cognição; de uma maneira mais simples: deixa que a sua vontade comande o seu conhecimento. As posições da esquerda, neste capítulo, aparecem aos olhos de todos nós como um radicalismo, sabendo-se que o trabalho para todos, é uma posição epistémica destas duas ideologias: marxismo e trotskismo. Parece mais humano dar pouco a muitos do que dar muito a poucos. Para quem não tem nada, um pouco representa muito. Enquanto todos não tivermos o suficiente para viver, ninguém deve ter o direito moral de ter mais. O PCP resolve esta dicotomia querendo tudo para todos; o BE não sabe resolvê-la porque sabe que contentar os funcionários em detrimento dos que ainda não têm trabalho, são situações insanáveis. Jerónimo de Sousa queria as duas coisas, e isso seria o ótimo, mas todos sabemos por questões de bom senso, que o ótimo é inimigo do bom. Quando se reivindica o ideal sem acudir ao possível, fica-se à beira da utopia com porta aberta para a demagogia. Se Jerónimo de Sousa e Catarina Martins fizessem um plebiscito nacional sobre sim ou não ao emprego, em vez do aumento salarial aos funcionários públicos, certamente teria uma resposta esmagadora pelo sim ao emprego. É da mais elementar justiça social e em cada um de nós se impõe como uma causa. O egoísmo não é caraterística deste nosso povo doce. Acredito nos portugueses que, sem seguidismos ideológicos, têm no coração a verdade da justiça social, tão intrinsecamente assumida, e esta passa pelo emprego para todos em vez do aumento para alguns.
Autor: Paulo Fafe
DM

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21 maio 2018